25.4.12

Fernando Rebelo, Biólogo. Grécia, Inglaterra, Portugal República Checa

Olá a todos,
Em primeiro lugar gostaria de dar os parabéns ao criador do Blog. Acho uma grande ideia ter uma plataforma para partilha as experiências no estrangeiro.
Em Segundo lugar, peco desculpas pela falta de pontuação (teclado estrangeiro) e alguns ocasionais erros de Português (Já são muitos anos a viver cá fora :p).
Bem, chamo-me Fernando, licenciado em biologia pela Universidade de Aveiro em 2008. Actualmente moro e trabalho em Praga.
Desde jovem (ainda antes de entrar para a universidade) sempre tive uma vontade de conhecer o mundo, viajar e viver em outros países, mas foi no 4 ano do curso tive a oportunidade de concorrer a uma bolsa Erasmus e passar um ano na Grécia para participar de um projecto de investigação.
Foi o melhor ano da minha vida! Apesar de ser do Porto e já ter estado a viver durante 3 anos fora de casa (em Aveiro), esta experiência foi muito enriquecedora e fez-me acreditar que, com forca de vontade, ambição e alguma sorte podemos alcançar todos os objectivos que nos colocamos.
A investigação correu muito bem e no final do período de Erasmus, a minha orientadora perguntou se eu queria continuar o trabalho e participar no grupo de investigação com um contrato de trabalho.
Fiquei radiante com a oferta, mas recusei... o bichinho viajante que desde a adolescência estava dentro de mim falou mais alto.
Sendo assim, quando voltei para Portugal (Junho de 2007) tentei concorrer para uma bolsa Leonardo da Vinci para tentar estagiar (5 ano do curso) em Manchester.
Infelizmente não consegui a bolsa... mas não baixei os braços e convenci o meu orientador em Aveiro a deixar-me viajar no primeiro semestre (Julho de 2007) para Manchester e trabalhar durante 6 meses para poupar dinheiro e começar o meu estagio em Janeiro de 2008.
E foi assim que me mandei para Manchester... com uma mala de roupa e 700 euros que me sobraram da bolsa Erasmus. Chegando em Manchester, sem bolsa de estudos aproveitava as oportunidades de trabalho que surgiam. Trabalhei a lavar carros (com imigrantes ilegais), fui ajudante de cozinha, vendedor e assistente de call centre. Quando o estagio começou, reduzi as minha horas para Part-Time e trabalhava 3 dias (6f, Sábado e Domingo) e estagiava de 2f a 5f. Foram 6 meses a trabalhar 7 dias por semana.
Depois de acabar o estagio, concorri para um mestrado ainda em Manchester e, no final do curso, consegui um estagio de 6 meses para fazer a tese numa consultoria ambiental. Acabado o estagio (Setembro de 2009), comecei a procura de emprego na minha área... e então veio a crise...
Desde que acabei o mestrado (Setembro de 2009) ate 2011 não consegui uma única entrevista de emprego na Inglaterra. Mandei imensos currículos, fiz voluntariado (a conjugar com o meu Part-Time pelo meio) e mesmo assim nem uma resposta recebia das empresas... nem um mail a dizer que não ou pelo menos dizer que tinham recebido a minha candidatura.
Isso tudo conjugado com a facto de na minha turma de 11 (6 estrangeiros e 5 ingleses) nenhum dos estrangeiros terem conseguido um emprego (ate a minha data de partida em Marco de 2011) e os 5 ingleses terem conseguido um emprego na área nos primeiros 6 meses depois de termos acabado o curso, fez-me virar outra vez para Portugal.
Concorri para 5 bolsas de investigação em Portugal. Fui chamado a 4 entrevistas e ofereceram-me 2 bolsas das quais escolhi uma.
Ja tinha acompanhado de longe a precariedade dos bolseiros de investigação em Portugal mas senti na pele durante 6 meses.
A minha bolsa seria de 3 anos renováveis a cada 6 meses (uma das melhores bolsas que vi... pois muitas delas eram 2, 3 ou 4 meses apenas) mas ao chegar a universidade deparei-me com uma situação que nunca tinha vivido. A competição pela atenção dos orientadores era uma tristeza... o que era suposto ser uma equipa parecia uma selva. O colega de projecto fazia tudo para deitar o outro abaixo a frente da orientadora, escondiam informações e resultados para nas reuniões aparecerem como “os salvadores da pátria“ e faziam de tudo para me desencorajar de projectos de divulgação cientifica que eu estava voluntariamente a criar. Quantas vezes ouvi: “O teu blog não vai dar certo“ ou então “Não faz sentido fazeres isso que e‘ uma perda de tempo“ e etc...
Bem acabados os primeiros 6 meses, e quando chegou a hora de renovar o contrato... fiz as malinhas e fui-me embora. Sim, o espanto foi total, fui acusado de falta de honestidade e de profissionalismo etc, etc e etc... pois... mas que eu saiba um contrato só é renovado se as duas partes concordarem com a renovação... deve ter sido a primeira vez que viram um bolseiro a bater com o pé e a dizer BASTA!
Depois desta péssima experiência em Portugal mudei-me para Praga em Setembro de 2011. Em Outubro consegui a entrevista na minha empresa e em Novembro comecei a trabalhar. Desde o primeiro dia que tenho contrato de trabalho e todas as condições que só poderia sonhar se tivesse em Portugal.
Acho que um dos momentos-chave da minha experiência de vida foi o regresso a Portugal depois de 5 anos a viver no estrangeiro. Por já ter vivido outras experiências, não consegui me conformar com a ideia de que os jovens tem que se sujeitar a recibos verdes, trabalhos precários, estágios não remunerados e voluntariados atrás de voluntariados.
No entanto, sem duvida o momento mais importante foi ter entrado na porta de embarque do avião para a Grécia há 6 anos atrás.
 Hoje, 4 meses depois de ter começado na minha empresa sou gestor de projectos científicos...
... e sou noivo de uma checa que conheci em 2006 em Erasmus. Estamos juntos há 6 anos :)

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