7.5.07

Frau K., Estudos Ingleses e Alemães, de Lisboa para Berlim, de Berlim para Lisboa

Cheguei a Berlim num dia 2 de Julho. Deixarei Berlim num dia 2 de Julho. Foi o acaso de que precisava para sentir o meu regresso de uma forma natural, sem o peso do que vou deixar para trás, sem o peso do que tenho medo de encontrar quando regressar a Portugal.
Saí de Portugal há 4 anos movida por algumas das razões de muitos “graduados”, o desânimo e horizontes demasiado curtos, não para ganhar mais dinheiro, mas apenas para conseguir subir mais alto nas minhas vivências, na minha experiência profissional também, na minha visão do mundo, para alcançar um tipo de liberdade que não é só o poder fazer o que me apetecer sem ter os paizinhos a chatear. Berlim foi o sítio ideal para isto tudo (será sempre).
Apaixonei-me por Berlim antes de saber que vinha para cá e a paixão mantem-se acesa depois de todos estes anos. Depois de um semestre de Erasmus, senti que não conseguiria ficar muito tempo longe e 11 meses depois já cá estava. Para ficar, dizia eu. Mas o que eu não sabia era que em Berlim não se fica, vai-se ficando, um modo de “ir andando” mais germanizado. Berlim é um lugar de passagem, onde as pessoas chegam e partem, onde se muda de casa de dois em dois anos, senão em menos tempo, onde se pode ouvir o mundo nas ruas, pessoas a falarem muitas línguas, uma Babel dos tempos modernos sem a ganância dos tempos bíblicos.
Devido a ter estudado alemão, não tive qualquer problema com a língua e consegui logo um trabalho, depois outro, a seguir outro, às tantas muitos ao mesmo tempo, mas sem o stress das horas de ponta nem da procura frustrada de um lugar para estacionar o carro ao pé do Bairro Alto. Aqui não tenho carro, aqui não tenho televisão. Quando se mora em Berlim nada disto é preciso. Berlim é tanta coisa que não dá para explicar. Berlim não se explica, pronto.
Quando disse que queria voltar para Portugal ninguém acreditou em mim (mas também ninguém acreditou em mim quando disse que vinha para Berlim). Depois da surpresa inicial, chamaram-me parva, louca, disseram-me “isto está tão mau”. Se calhar está. Pois está. Mas também não se explicam as saudades. “Para sempre?”, perguntam-me os que cá ficam (ou vão ficando). Que horror, para sempre, não. Para sempre é muito tempo. Digo na brincadeira que de Julho a quatro anos irei para outro sítio, exactamente no dia 2, que mudarei de sítio de quatro em quatro anos (vou e volto). Assim como os anos bissextos. Acho que é uma ideia agradável, mas a verdade é que não penso muito nisso. Agora quero viver na minha língua outra vez.
(Se valeu a pena? Mas claro que sim! Vale por cada dia que passa.)