3.2.08

ELD, Assistant Polymer and Paint Scientist, Londres

Em Março de 2005 terminei o curso de Licenciatura em Química no Instituto Superior Técnico com média de 15 valores. Durante o curso fiz investigação com vários professores em diferentes áreas da química. Não só foram boas oportunidades para aprender, como também para fazer currículo e conseguir uma ou outra publicação. O último ano do curso consistia num estágio, este pode ser proposto pelo aluno ou então pode esperar que o IST lhe encontre uma solução. Pelo que vi de anos anteriores, quem esperava, desesperava e raramente tinha estágios interessantes ou que começassem na altura devida. Como tal, pus mãos à obra e decidi que eu trataria de arranjar o estágio com o qual sonhava. Queria ir para uma empresa, no estrangeiro mas não em Espanha, de preferência multinacional e trabalhar com polímeros. Isto por várias razões: a experiência de investigação em Universidade já tinha, em empresa não; além disso a área dos polímeros parecia-me algo que me daria muitas opções para o futuro visto o seu grande leque de aplicações. Contactei um professor que me possibilitou o estágio "perfeito": Solvay, França, síntese de latexes.
O meu estágio, em que trabalhei em 3 projectos diferentes, durou cerca de 10 meses. Na sua maioria as pessoas eram muito simpáticas e gostei muito do trabalho. Tive condições fantásticas: recebia salário, a casa era da empresa e até me emprestaram uma bicicleta. Enfim, partir foi difícil mas não havia hipótese de ficar.
Regressei a Portugal após o estágio, apresentei o respectivo relatório e fiz o exame da cadeira que faltava. E assim terminei o curso. Assim que cheguei a Portugal iniciei a caça ao emprego, cheguei a ir a uma entrevista ainda antes de terminar a Licenciatura. De facto, foi uma busca intensiva que deu frutos ao fim de dois meses. Dado o panorama geral, não era esquisita e por isso, se a oferta tivesse Química lá escrito, eu enviava. Fui a várias entrevistas e processos de selecção. A primeira a oferecer emprego foi uma empresa de Importação e Exportação, eu aceitei.
Apesar de acabadinha de sair da licenciatura fui Chefe de Divisão desta empresa durante cerca de 2 anos e meio. Era uma função técnico-comercial, mais comercial do que técnica. Com o passar do tempo as viagens constantes, as horas extra não remuneradas e um chefe incapaz de tecer um elogio mas sempre pronto para "deitar abaixo" cansaram-me.
As saudades da investigação e do verdadeiro contacto com a química foram crescendo e comecei à procura de emprego. Desde sempre que não quis viver à custa de BICs (Bolsa de investigação científica) que não só são de valores baixos como também instáveis: uma vez acabada a bolsa de 1 ano, nada diz que se consiga outra para o ano seguinte. Também estava decidida a não partir para doutoramento pois dada a vastidão da química não tinha a certeza se queria trabalhar 5 anos em algo muito específico e, além disso, com a minha média arriscava-me a não conseguir bolsa. Obviamente a situação do país não tinha melhorado desde que tinha acabado o curso e por isso comecei à procura de emprego no estrangeiro. Aqui era óbvia a diferença pois em Portugal nem apareciam ofertas de emprego para Laboratórios, para investigação; contudo, especialmente para o Reino Unido, estas abundavam. Aqui a procura foi muito mais longa, mas aqui era bastante mais selectiva quanto às ofertas a que respondia.
Eventualmente acabei por ser chamada para entrevista para uma importante companhia fabricante de tintas no Reino Unido, na zona de Londres, que no dia seguinte informou-me que eu tinha sido aceite. Estou cá a trabalhar desde início de Novembro e estou a adorar. O trabalho é muito interessante, as pessoas são muito simpáticas e tenho a noção que ouvem as minhas opiniões! Já fui elogiada por mais que um dos chefes, não só pelo trabalho que aqui desenvolvi mas também pelo meu currículo (até porque a maioria das pessoas que ali chegam nunca sintetizaram um latex). Sinto que aqui, investem em mim e preocupam-se comigo como indivíduo; são dados cursos de formação e já me foi dito que irei a outro país ter um curso de uma semana acerca do tema em que trabalho.
Recentemente a empresa foi comprada e desde Janeiro que passei a pertencer a uma das maiores indústrias químicas a nível mundial. O salário não é muito elevado quando comparado com vê por cá - contudo é consideravelmente superior ao que recebia em Portugal - mas dá perfeitamente para viver, comprar uma coisitas que goste e ir a Londres de vez em quando. Mas mais que o dinheiro, é a felicidade e realização pessoal que este emprego me trouxe.
Voltar a Portugal? Talvez... para gozar a reforma.

http://minhavidadava1filme.blogspot.com

1 comment:

Era uma vez um Girassol said...

"...e um chefe incapaz de tecer um elogio mas sempre pronto para "deitar abaixo" cansaram-me."
"Já fui elogiada por mais que um dos chefes, não só pelo trabalho que aqui desenvolvi mas também pelo meu currículo.."
"Sinto que aqui, investem em mim e preocupam-se comigo como indivíduo"...

Esta, a grande diferença...!
Gostei imenso de ler este testemunho, onde se vê de forma clara o modo como são tratadas as pessoas em Portugal e lá fora.
Questão de educação? Talvez.
Gozar a reforma aqui?
Nah...Eu penso gozá-la "lá fora"!!!!
Um abraço