9.5.07

Cláudia Maia, Relações Internacionais, Nova Iorque
Já estou fora há 11 anos. Quando digo isto em voz alta dou-me conta da enormidade de tempo. Um terço da minha vida. Não era o que pretendia quando saí de Portugal.

Saí de Portugal para ir fazer um estágio na Comissão Europeia - estava convencida que esse estágio de 6 meses seria a cereja em cima do bolo (o bolo era a licenciatura em Relações Internacionais) e que me abriria muitas portas de regresso a Portugal. Era isso, ou então melhor que isso ... acalentava a esperança de conseguir um lugarzinho na Comissão Europeia ... haveria emprego melhor do que esse de ser funcionária pública e ganhar mil contos por mês?! OK, quimeras à parte, eu estava plenamente convencida que regressaria a Portugal no fim dos 6 meses de estágio.

Se acabei por prolongar a minha experiência em Bruxelas, foi pela aventura, pelo prazer de conhecer outras realidades, outras mentalidades, para continuar a alargar horizontes. Bruxelas conglomera pessoas de todas as nacionalidades, com experiências interessantes e percursos de vida diferentes. E eu nunca tinha convivido com tal diversidade e tamanha riqueza de experiências. O Porto não é propriamente cosmopolita nesse sentido.
Se não regressei a Portugal no fim dos 6 meses de estágio, foi porque quis prolongar a experiência, a aventura, o prazer. Fiz outro estágio, fiz um mestrado, e continuava a divertir-me imenso, a enriquecer e a crescer.

E tanto fui adiando o regresso a Portugal (que, para o efeito, poderia ser Espanha, Itália ou Dinamarca) que dei por mim a procurar emprego em Bruxelas. Não encontrei propriamente um lugar nas instituições da União Europeia, mas fui recrutada por um banco que não é um banco (é um sistema de compensação e liquidação de valores) ... e tem corrido bem!
O ambiente de trabalho conquistou-me e por isso estou no banco há 8 anos: um ambiente muito internacional (cerca de 2000 pessoas, com uma abundância de italianos, franceses, espanhóis, holandeses, ingleses, russos, finlandeses, alemães, chilenos, japoneses, portugueses...), uma hierarquia horizontal e acessível, aposta na formação contínua, oportunidades de carreira, e até oportunidades que já me levaram ao Brasil (7 meses em São Paulo) e que me trouxeram agora a NY.

Este é o meu percurso até agora. E queria aproveitar este espaço - GAP - para ressaltar todo este lado positivo de partir de Portugal em direcção ao mundo!

Não posso deixar de referir, no entanto, o lado menos positivo desta vida de expatriados ... nem tudo é aventura, prazer, glamour internacional!
Na minha experiência pessoal, há um factor que não podemos ignorar, porque nos vai desassossegar, fazer sentir divididos, forçar a (re)considerar as nossas opções. É o factor 'saudade' ... saudades da família, saudades dos amigos, saudades dos percursos que se faziam (o simples acto de ir comprar o pão a determinada padaria ... ou passar naquele quiosque ... enfim, saudades das rotinas que nos desenhavam os dias), saudades dos sons e dos cheiros, saudades do Porto, saudades de esplanadas, do rio, do mar, saudades da minha vida, saudades dos anos que não vivi em Portugal (como se os tivesse vivido em Portugal) ...
O factor 'saudade' alimenta viciosamente o factor 'dualidade', o dilema da dúvida e da incerteza ... como teria sido a minha vida se tivesse ficado? impossível pesar prós e contras (porque, não tendo vivido uma das opções, nunca saberemos o que perdemos ou o que ganhámos em comparação) ... devo deixar-me estar, prolongar esta minha 'aventura'? ou regressar? ... e regressar, será a decisão acertada? vou arrepender-me? ... quando é o momento certo? ...

Mas não quero atormentar-vos com os factores 'saudade' e 'dualidade' ... arriscam-se a ficar estacionados por dúvida e por incerteza ... A verdade é que eu sou um bocado Kierkegaardiana, não liguem ... Avancem sem medos, partam à aventura, e enriqueçam Portugal com as vossas experiências!
Espero que este meu testemunho tenha mostrado o lado interessante da vida expatriada ... alertando para o poder insidioso da portuguesa saudade.

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