10.5.07

Ana Catarino, Antropóloga, Amsterdam
Hummm confesso que nem sei bem o que escrever. Porque é que saí? Não sei muito bem.
A primeira vez que saí de Portugal por mais tempo foi quando fui para Paris, por 6 meses, ao abrigo do programa Erasmus. E gostei, gostei da sensação de estar fora, de conhecer outras coisas, de viver outra cidade. Adoro cidades. E percebi como é bom viver noutros sítios, como é bom experimentarmo-nos noutros sítios, noutras realidades. Digamos que fiquei com a certeza de que queria mesmo experimentar uma jornada mais longa fora de Portugal.
Nesse mesmo ano vim a Amsterdão de férias e esta pareceu-me uma cidade simpática. Calma, silenciosa mas ao mesmo tempo muito cosmopolita e com uma universidade engraçada. Decidimos então que talvez esta fosse uma hipótese. O decidimos fui eu e o meu marido. E há mais ou menos dois (digo mais ou menos porque interrompemos a nossa estadia aqui por uns meses em Lisboa) mudámo-nos mesmo. Estamos numa situação singular uma vez que ainda temos laços aí. Laços de trabalho quero eu dizer. É assim como trabalhar num sítio mas viver noutro.
Eu, eu ando a ver se retomo os estudos e desfruto do ambiente internacional desta universidade onde desde 2003, mais ou menos, a maioria das pós-graduações, mestrados e doutoramentos são em inglês. O que evita ter pressa em aprender holandês, uma língua nada fácil.
Mas de todo se poderá dizer que saí porque me zanguei com Portugal. Zango-me muitas vezes com Portugal mas o que me fez sair foi mesmo o desejo de experimentar outro local. Gosto da sensação de me ver noutro sítio, de me sentir noutras ruas de outras cidades. Também gosto de fazer as compras ao sábado no mercado de rua aqui ao pé de casa, de poder comprar fruta biológica sem sentir que sou "roubada" pelos preços. Gosto de andar de bicicleta sem ser atropelada, de fazer picnic's num dos vários parques ou mesmo sentada à beira do canal.
Gosto que a cidade não tenha mega centros comerciais e tenha lojinhas pequenas a lembrar o comércio local. Gosto dos cafés com esplanada. Gosto de sentir que o Estado quer saber de mim, e dou como exemplo o facto de ter tido a oportunidade de votar nas eleições locais estando inscrita há menos de um ano (não aproveitei porque na altura estava em Lisboa), e outro exemplo: menos de um mês depois de nos termos inscrito chegou-nos uma carta a dizer que se quisermos poderemos votar como holandeses nas próximas eleições europeias (e confesso que ainda não sei se aceito o convite ou não, em 2009 veremos).
Saí por tudo isto mas não sei dizer por quanto tempo.