12.10.08

José Gabadinho, Engenheiro Informático. Brugg, Suiça

Olá!
A minha saída de Portugal pode resumir-se numa palavra: fartei-me. Fartei-me da falta de planeamento urbano obrigando a utilização de carros e o consequente trânsito caótico, a falta de respeito generalizada (das empresas aos seus trabalhadores, das cidades aos seus munícipes, etc.), da falta de coragem política para mudar o que não funciona, enfim, a lista é longa.
E tinha uma questão pessoal a responder: tem que haver algo melhor que isto lá fora!
Quando me recompus do choque que foi ver a empresa onde trabalhava, de renome na área da informática, ir quase à falência devido a erros de gestão, e que ordenados em atraso não acontecem apenas em fábricas, decidi arriscar.
Saí há já 5 anos com uma bolsa da FCT para um estágio no CERN pela ADI, pois considerei essa a maneira mais simples de o fazer. Além disso queria mudar o mais possível, no meu caso do sector privado em Portugal para a área de investigação no estrangeiro. Passado um ano mudei-me para a França onde estive quase 4, e este verão voltei para a Suiça, ainda na área de investigação, agora no maior instituto federal suiço.
Até hoje não tive intenções de sair da Europa.
E o que descobri quando saí? Que tinha vivido enganado! Povo latino, quente e acolhedor? Tretas! As pessoas por essa Europa fora são muito mais despreocupadas, educadas, responsáveis e sobretudo muito menos mesquinhas. No emprego trabalha-se, não se passa o tempo, e como todos assim o fazem as coisas funcionam e o stress é muito menor. E na sociedade as regras que existem são pensadas e feitas para melhorar a qualidade de vida, logo não estorvam. Muito maior mobilidade, é tão fácil mudar de emprego, cidade, apartamento, que às vezes até assusta.
Quando os meus colegas sabem que sou português normalmente ficam curiosos pois no meio onde me movimento não existem muitos, normalmente apenas estudantes/estagiários e não como staff dos institutos. Nunca tive problemas de discriminação, mas é verdade que não falar a língua do país pode levar a situações no dia-a-dia menos agradáveis.
Volto a Portugal regularmente para rever a família. Os meus amigos por lá (aí...?) têm por vezes uma visão demasiado lírica da minha situação, talvez por tido a coragem de fazer o que eles apenas imaginaram. E cada vez mais me perguntam como é viver no estrangeiro, já não apenas como curiosidade mas para tentar perceber se funcionaria para eles.
É lógico que é difícil sair, largar (ou levar) família e amigos; se emigrar vale a pena é uma pergunta que não se pode responder pelos outros. Se se vive melhor no estrangeiro também depende: a resposta é sim para quem precisa de trabalhar para viver (e no caso particular da Suiça mesmo os trabalhos mais básicos são bem remunerados e não existe tanto estigma). Para outros Portugal pode
ser um paraíso. Pessoalmente não saí pelo dinheiro, nem ganho assim tanto comparado com o que poderia ganhar em Portugal.
Se vou voltar? Não sei. Na realidade procuro trabalho em projectos interessantes, e se encontrar um em Portugal não existe nenhuma razão para não o aceitar, mas se voltar sei o que me espera (e também o que existe cá fora): volto de olhos abertos.
O meu único arrependimento, não ter saído mais cedo!
Tschüss!

gabadinho@gmail.com

1 comment:

Anonymous said...

Eu tb vivia na ideia de que Portugal era um bonito país à beira mal plantado, com boa comida, povo acolhedor, sol o ano inteiro, sentia um enorme orgulho de ser latina como se nós fossemos melhores que os outros... até ter saído para o estrangeiro.. e bastaram uns meses em Londres, outros nos EUA e mais algumas viagens pela Europa para rapidamente me desiludir com o nosso país! É verdade que Portugal tem tudo isso mas lá fora há tão bom e muito melhor, acho que isso foi a principal descoberta. E quando regressamos a Portugal é que percebemos o país mesquinho que temos... sobretudo em termos económicos e sociais, já para não falar na mentalidade... apesar de tudo, no meu caso continuo por cá, acho que pertenço ao grupo dos eternamente insatisfeitos mas acomodados. Como a minha situação profissional é razoável e como dou muito valor à família, deixo-me ficar... um pouco infeliz, sempre a pensar como seria lá fora mas sem corgaem para sair.
Por isso parabéns pleo blog e obrigada a todos quanto aparecem por aqui a partilhar as suas histórias.
Ana Fernandes