16.2.08

Branca, Arquitecta. Londres, Reuno Unido

Como muitos dos sites que visito, descobri este por acaso, num link de algum blog por onde passei os olhos.

Gosto de viajar, gosto esse que foi transmitido pelos meus pais, junto com a ideia de que se aprende muito a viajar. Concordo a 100%. Entre ferias em cursos de línguas, acampamentos e viagens de família fui conhecendo outros sítios, outras línguas e outras culturas.

Em Julho de 2002 fui para a Noruega em Erasmus por 11 meses, dos quais 6 semanas foram passadas na China. Ai surgiu a ideia de ir para a India fazer a prova final, a Goa para ser mais especifica - afinal parte da família e' de la' e a India sempre me atraiu. Seis meses depois de chegar da Escandinávia partia por três meses para o "terceiro mundo".

As coisas não correram como eu as planeara (o que me acontece frequentemente) e a razão perdeu: voltei a Goa por cinco meses durante o estagio (sem obrigação de remuneração) exigido pela OA. Regressei a Portugal e fiz os restantes sete meses num atelier em Coimbra. Morava com os meus pais mas vivia novamente entre dois fuso-horários, entre duas línguas, entre dois países a 8000km de distancia.

O fim do estagio coincidiu, entre muitas coisas, com a rescisão de emprego de quem me fez voltar a Goa. Era a única maneira de nos voltarmos a ver. Ele veio por 3 meses a Portugal e eu ia aproveitando o desemprego para estar com ele mas ia mandando currículos para onde visse anúncios.

Dois meses depois veio a noticia de que ele tinha sido aceite para mestrado em Londres. Eu ainda estava desempregada. Os ateliers aceitavam essencialmente recém licenciados, que tinham de fazer o estagio (o tal para o qual não era obrigatória remuneração) e os sítios para onde mandava candidaturas de resposta a anúncios nem se dignavam a dizer que as vagas tinham sido ocupadas. Falei com uma arquitecta que estava em Londres, numa de sondar a situação e pareceu-me haver mais oferta que procura. Arrisquei.

Dia 22 de Junho de 2006 comecei a mandar emails, maioritariamente de autoproposta, para ateliers em Londres. Imprimi 20 portfolios, fiz a mala e uma semana depois estava em Londres, com uma meta imposta por mim de um mês para arranjar emprego ou voltar para Portugal. Uns dias depois, para alem de varios e-mails de rejeição mas com votos de boa sorte na procura, tinha duas entrevistas. 4 de Julho de 2006 fui 'as duas entrevistas, por coincidência marcadas para o mesmo dia, em lados opostos da cidade. A primeira não correu bem, não era o que eles procuravam. A segunda começou pior. Um escocês! Tive de lhe pedir para repetir as frases uma data de vezes, mas quando sai de la' uma hora depois fiquei com a sensação de que ele tinha gostado. Dois dias depois recebi um telefonema a perguntar quando podia começar. 10 de Julho de 2006 foi o meu primeiro dia de trabalho em Londres. A semana que se seguiu foi o caos: abrir conta bancaria, alugar casa, tratar do NIN (tipo segurança social), conhecer as estações de metro e alternativas para não chegar tarde ao emprego nem ao jantar na residência e adaptar-me ao modus vivendi. Mas claro, valeu a pena.

Passados 20 meses continuo na mesma empresa, apesar de muita gente aqui mudar frequentemente de emprego. Estou com contrato permanente, trabalho cinco dias por semana das 9h00 'as 17h30 com uma hora para almoço. Se tiver de ficar mais tempo recebo horas extraordinárias.

No Natal e no Verão temos uma actividade de escritório: uma viagem de fim de semana ou um pique-nique no parque mais próximo, a ideia e' que a malta conviva e se divirta. O escritório promove regularmente acções de formação em diversas áreas ligadas 'a arquitectura para o pessoal se manter actualizado. Há imensas pessoas de montes de sítios (nos somos 15 com 13 nacionalidades diferentes), o que nos leva a conhecer um pouco de cada cultura e concluir que não somos os único "expat". E isto não e' so' onde eu trabalho, há' muitos escritórios assim ('a parte das horas extraordinárias talvez). Para ajudar, 'a media de uma pessoa (conhecida) por mes chega gente nova 'a procura de emprego. Ou sao de Coimbra, ou estudaram em Coimbra, ou amigos de amigos. Estou farta de conhecer portugueses!

Portugal?

Já me disseram varias vezes que o meu conceito de distancia e' diferente. Talvez. Não acho que esteja assim tão longe de casa: são seis horas de porta a porta se os pilotos não se atrasarem. E há telefones, e-mails, blogues, cartas e postais. Quando vou a casa levo a mala vazia e trago-a carregada com azeite, chouriços, bacalhau, queijo do Rabaçal, licor beirão, vinho tinto, vinho do Porto, bolo de mel, Bohemias e outras iguarias dependendo da época. Acabo por falar mais com os amigos quando estou fora, nem que seja pela curiosidade: minha de saber as novidades da terra, e deles por conhecerem os sítios por onde ando.

Quando volto a casa apercebo-me que as coisas não mudaram. Bem ou mal, continua tudo na mesma.

Vou ficando por aqui. Certamente voltarei a Portugal sem ser de ferias, mas nem vale a pena fazer planos para isso, porque nada me acontece como planeado. Londres não e' de todo o paraíso e tem um clima horroroso mas, tirando isso, agrada-me. Como provavelmente me agradaria qualquer outro sitio que escolhesse para viver, porque se não me agradasse acho que não ficava la! Tendo a ser uma pessoa positiva e aproveito o melhor do que tenho em vez de idealizar o impossível. Londres tem tanto para ver, fazer e viver que e' quase impossível uma pessoa se fartar.

Qualidade de vida?

Se estivesse em Portugal, ou vivia com os meus pais e manteria a qualidade de vida que sempre tive ou teria de apertar bastante o cinto para me adaptar ao modelo "600 euros/mes". Aqui tenho uma qualidade de vida que não e' como a que teria em casa dos meus pais mas e' bem melhor que a dos 600 euros.

Aqui não tenho carro mas o sistema de transportes públicos e' bastante bom e os autocarros funcionam 24 horas por dia (apesar evitar os "nightbuses"). Moro numa casa com mais duas pessoas mas em Portugal teria provavelmente de fazer o mesmo, certamente sem piscina, sauna, jacuzi e ginásio. Vou menos vezes comer fora mas vou mais ao cinema e a concertos. E no fim do mês ainda passo uma parte do salário para a conta poupança.


www.spaces.msn.com/brancapegado

4 comments:

Era uma vez um Girassol said...

Sinceramente tenho pena que os homens que nos governam não leiam estes testemunhos...
Veriam como se empobrece Portugal deixando escapar tantos jovens, que se esforçaram para tirar as suas licenciaturas. Que um dia, tendo perdido a esperança de aqui encontrar uma carreira, partiram determinados a procurar quem lhes proporcionasse melhores condições de vida.
Felizmente assim aconteceu!
Parabéns mais uma vez!
Gosto de vos ler e acompanhar.
Um abraço

Anonymous said...

Escrevo na qualidade de arquitecta recém licenciada, e após 3 meses de autêntica exploração num atelier onde, depois de tudo, ainda me tentam anular os 3 meses de estágio que fiz.
Estou com meio pé em Londres, tenho a vontade, a força para ir.. assusta-me se o mercado é diferente, se o trabalho é muito diferente.. se se.. gostava de ouvir mais qualquer coisa da sua parte. Conselhos, incentivos.. não sei.
Deixo o meu mail analuciadacruz@gmail.com.

Parabéns pela coragem! Felicidades.

Cat said...

Gostei muito de ler o seu texto foi muito inspirador pois os meus planos também nunca resultam e por vezes parece que sou a pessoa mais azarada do mundo. Sou estudante do 12º ano na área de artes visuais e tenho andado a pensar em fazer a minha licenciatura em arquitectura em londres. Já estive em Londres e aí os estudantes têm grandes regalias e o sistema de ensino é bastante diferente previligiando a prática em vez da teoria. Se possível gostaria de ouvir alguns conselhos que possa ter para mim, algumas universidades a que me deva candidatar e se conseguirei arranjar emprego... Obviamente que é um grande investimento monetário mas a meu ver vale bem a pena, e existem muitas ofertas de bolsas e part-times. Obrigado e continuaçao de uma excelente carreira*

Cat said...

o mail: catarina0rodrigues@gmail.com

obrigado