15.5.13

Sofia Lopes, licenciada em Línguas Literaturas e Culturas - Alemão e Inglês, Alemanha

Lembro-me de ter 14 ou 15 anos e de passar horas a fio a imaginar como seria quando entrasse na universidade pela primeira vez. Não via a hora de agarrar nas minhas tralhas e pôr-me fora duma ilha demasiado pequena para uma miúda demasiado vivaça como eu. Para já, entrar na universidade implicava automaticamente sair dos Açores, onde nasci e vivi até aos 18 anos, e só me concentrava em pôr o meu plano em prática. As coisas correram bem e em 2008 entro em Psicologia no ISCTE, em Lisboa. Foi uma reviravolta de 360o. O êxtase inicial transformou-se, em meio ano, numa relação de amor-ódio com Lisboa. Gostava do curso, dos colegas ainda mais, do ambiente festivo em geral, mas já da capital....bom, digamos que a Lisboa que conhecia durante as férias de Verão nao era de todo a selva que me começava a engolir aos bocadinhos, 24h sobre 24h. Quase 2 horas por dia em transportes públicos para chegar à faculdade, hora e meia de regresso a casa em hora de ponta (no melhor dos cenários) , gente bem mais individualista e pouco simpática que em nada se assemelhava ao povo açoriano...enfim, a minha cabeça cozinhava a bom gás uma caldeirada de perguntas e dúvidas quanto aos próximos 3-5 anos do meu futuro. No final do primeiro ano comuniquei aos meus pais a decisão: "não quero continuar a viver em Lisboa. Vou pedir transferência para Aveiro e assim mudo-me com vocês". O meu pai não reagiu nada bem, como seria de esperar, com uma cara de "más tu 'tás a gozar comigo?!" Um ano de propinas deitado fora, como ele disse, não era brincadeira. E quem é que garantia aos meus pais - fiadores da filha universitária - que as coisas iriam correr bem desta vez?.. Eu, pois claro.  Foi, de longe, o pior Verão da minha vida: os meus pais decidiram deixar os Açores e rumar a Aveiro, terra natal do meu pai e, como tal, passámos meses a empacotar 26 de vida. Enquanto isso, dei de caras com o dilema "transferência de curso" e centenas de burocracias à moda portuguesa, e cheguei à conclusão que não podia continuar o curso de Psicologia na Universidade de Aveiro. Apeteceu-me largar fogo aos 123 caixotes à minha volta e a uma casa com pouco mais do que 4 paredes brancas. Só havia uma solução e era nada mais nada menos do que começar do zero: candidatar-me novamente à universidade e escolher um curso que fosse mais ou menos a minha cara. Opções? Pouquíssimas. Sempre gostei de línguas e o único curso cujo plano de estudos me parecia ligeiramente mais interessante do que os outros era o de Línguas, Literaturas e Culturas - ramo Inglês/Alemão.
Prometi a mim mesma que não podia falhar uma segunda vez e basicamente esforcei-me à séria. Fiz o curso em 3 anos, sem nenhuma cadeira deixada para trás e apenas 1 recurso. Decidi fazer o meu 3o ano em Erasmus para melhorar o meu nível de Alemão e candidatei-me como primeira opção à única universidade com apenas 1 vaga. Precisava duma aventura e pêras e decidi arriscar e ir sozinha. Fiquei com a vaga e aprendi mais num semestre na Paedagogische Hoschule Heidelberg (University of Education Heidelberg) do que em 2 anos no dep. de Línguas e Culturas da Uni. de Aveiro. Adorei de tal maneira a experiência e o sistema de educação completamente inovador que acabei por ficar outro semestre. Apesar das d-o-z-e cadeiras que tive num semestre, ainda arranjei um part-time como babysitter a receber 10 euros à hora (mais do que se recebe a trabalhar como empregada de mesa ou num bar na Alemanha) e a vida não podia correr melhor. Resultado: depois de Erasmus, com o curso terminado e com um futuro negro à minha espera em Portugal, decidi pôr o Mestrado em stand by, ou "águas de bacalhau", e tentar arranjar trabalho por cá. Estou prestes a acabar um ano como "aupair" e o meu futuro vai, seguramente, continuar por cá.

Sair de Portugal, mesmo que temporariamente, foi a melhor decisão que tomei. E a todos os que continuam com o rabo sentado no sofá, com um canudo na gaveta, à espera do fundo de desemprego que não tarda está a acabar, a queixarem-se, a lamentarem-se das condições que o país oferece, sem coragem para saírem...pensem duas vezes. Nós somos a geração que pode e deve lutar por um futuro melhor, já que os nossos pais e gerações anteriores estão demasiado consumidos por uma vida inteira de trabalho e sacrifícios que lhes levaram tudo. Até a esperança.

30.9.12

João Páris, Doutoramento em Saúde Pública. Dublin Irlanda

Caros colegas deste país imenso que é o Mundo,

Começo por salutar o organizador por esta iniciativa mas por discordar um pouco da ideia de "abandono".
Não acredito que qualquer um de nós neste blog tenha realmente abandonado o país. Levamos esta nossa cultura e aposto que nas vossas malas de visita de fim de semana aproveitam para trazer um pouco dos nossos chouriços ou bacalhau.
Pessoalmente vejo que viver fora de Portugal é muito mais que uma renuncia ao nosso país mas mais o aproveitamento de oportunidade que este século nos oferece, e uma obrigação de conhecer este mundo. A ideia de "país" também tem vindo se a alterar com a globalização e a multiculturalização havendo cada vez mais esta mistura tão interessante nas mais modernas cidades.

Vivo há 5 anos em Dublin, Irlanda. Fiz Erasmus em Espanha e tive a sorte de fazer um Interrail pela Europa ainda mais novo. Desta forma se fazem os Vascos da Gama de hoje, acredito. E para onde vamos observamos o que há de melhor, desenvolvemo-nos e quem sabe um dia voltaremos ainda mais fortes para ajudar o nosso país. Para aqueles que criticam o Portugal de hoje temos de pensar que esse é o Portugal que não conhece o mundo cá fora, que nunca explorou outras mentalidade de trabalho e outras perspectivas. E por isso concordo com o nosso ministro de trabalhar e viver fora. Porque um dia esses portugueses farão de Portugal um País diferente.


Hoje sou muito feliz com aquilo que conquistei nos últimos anos. A minha paixão pela literatura irlandesa quando era ainda uma adolescente inspirou-me até aqui e ensina-me o seguinte: seguir o instinto e o coração. Num mundo de excessivas opiniões seguir o nosso coração e provavelmente a única certeza que tenho.


Estou neste momento a completar o meu doutoramento na University College Dublin na área de Saúde Pública e Exercício onde desenvolvi um projecto com idosos. Agora a terminar este doutoramento reparo na quantidade de portas que vamos abrindo quando decidimos abrir a primeira. Abrir a primeira porta e sempre mais difícil mas depois tudo se transforma e os nossos olhos passam a ver o mundo também de outra forma vendo em desafios novas oportunidades.

A integração nesta cultura foi excepcional e adoro esta cidade. Contudo, tenho de lembrar que os portugueses são muito unidos o que mostra a paixão que temos pela nossa cultura e raízes.

De concluir que adoro o Porto de onde venho e espero um dia voltar para ser empreendedor. Porque acredito que nos teremos de dar o exemplo em Portugal, ensinar e não esperar que outros com menos sorte do que nos nos dêem esse exemplo.

No final deste ano espero concretizar novas conquistas. Como apaixonado músico e compositor construí a minha banda com franceses e brasileiros. Fico orgulhoso por ter cantado músicas orginais em português pelas ruas e bares de Dublin.


Quando sair de Dublin terei concretizado imensas coisas para o meu coração e novos projetos virão. Mas irei ter com a minha namorada que aqui conheci ao Brazil e com ela viajar pelas terras de Minas Gerais e arredores e com certeza novas portas serão abertas para nós.


As minhas palavras são estas: viajar e abrir novas portas e abrir portas e conhecer-nos melhor e tornar-nos melhores pessoas e profissionais.


Saudações,

João

25.4.12

Fernando Rebelo, Biólogo. Grécia, Inglaterra, Portugal República Checa

Olá a todos,
Em primeiro lugar gostaria de dar os parabéns ao criador do Blog. Acho uma grande ideia ter uma plataforma para partilha as experiências no estrangeiro.
Em Segundo lugar, peco desculpas pela falta de pontuação (teclado estrangeiro) e alguns ocasionais erros de Português (Já são muitos anos a viver cá fora :p).
Bem, chamo-me Fernando, licenciado em biologia pela Universidade de Aveiro em 2008. Actualmente moro e trabalho em Praga.
Desde jovem (ainda antes de entrar para a universidade) sempre tive uma vontade de conhecer o mundo, viajar e viver em outros países, mas foi no 4 ano do curso tive a oportunidade de concorrer a uma bolsa Erasmus e passar um ano na Grécia para participar de um projecto de investigação.
Foi o melhor ano da minha vida! Apesar de ser do Porto e já ter estado a viver durante 3 anos fora de casa (em Aveiro), esta experiência foi muito enriquecedora e fez-me acreditar que, com forca de vontade, ambição e alguma sorte podemos alcançar todos os objectivos que nos colocamos.
A investigação correu muito bem e no final do período de Erasmus, a minha orientadora perguntou se eu queria continuar o trabalho e participar no grupo de investigação com um contrato de trabalho.
Fiquei radiante com a oferta, mas recusei... o bichinho viajante que desde a adolescência estava dentro de mim falou mais alto.
Sendo assim, quando voltei para Portugal (Junho de 2007) tentei concorrer para uma bolsa Leonardo da Vinci para tentar estagiar (5 ano do curso) em Manchester.
Infelizmente não consegui a bolsa... mas não baixei os braços e convenci o meu orientador em Aveiro a deixar-me viajar no primeiro semestre (Julho de 2007) para Manchester e trabalhar durante 6 meses para poupar dinheiro e começar o meu estagio em Janeiro de 2008.
E foi assim que me mandei para Manchester... com uma mala de roupa e 700 euros que me sobraram da bolsa Erasmus. Chegando em Manchester, sem bolsa de estudos aproveitava as oportunidades de trabalho que surgiam. Trabalhei a lavar carros (com imigrantes ilegais), fui ajudante de cozinha, vendedor e assistente de call centre. Quando o estagio começou, reduzi as minha horas para Part-Time e trabalhava 3 dias (6f, Sábado e Domingo) e estagiava de 2f a 5f. Foram 6 meses a trabalhar 7 dias por semana.
Depois de acabar o estagio, concorri para um mestrado ainda em Manchester e, no final do curso, consegui um estagio de 6 meses para fazer a tese numa consultoria ambiental. Acabado o estagio (Setembro de 2009), comecei a procura de emprego na minha área... e então veio a crise...
Desde que acabei o mestrado (Setembro de 2009) ate 2011 não consegui uma única entrevista de emprego na Inglaterra. Mandei imensos currículos, fiz voluntariado (a conjugar com o meu Part-Time pelo meio) e mesmo assim nem uma resposta recebia das empresas... nem um mail a dizer que não ou pelo menos dizer que tinham recebido a minha candidatura.
Isso tudo conjugado com a facto de na minha turma de 11 (6 estrangeiros e 5 ingleses) nenhum dos estrangeiros terem conseguido um emprego (ate a minha data de partida em Marco de 2011) e os 5 ingleses terem conseguido um emprego na área nos primeiros 6 meses depois de termos acabado o curso, fez-me virar outra vez para Portugal.
Concorri para 5 bolsas de investigação em Portugal. Fui chamado a 4 entrevistas e ofereceram-me 2 bolsas das quais escolhi uma.
Ja tinha acompanhado de longe a precariedade dos bolseiros de investigação em Portugal mas senti na pele durante 6 meses.
A minha bolsa seria de 3 anos renováveis a cada 6 meses (uma das melhores bolsas que vi... pois muitas delas eram 2, 3 ou 4 meses apenas) mas ao chegar a universidade deparei-me com uma situação que nunca tinha vivido. A competição pela atenção dos orientadores era uma tristeza... o que era suposto ser uma equipa parecia uma selva. O colega de projecto fazia tudo para deitar o outro abaixo a frente da orientadora, escondiam informações e resultados para nas reuniões aparecerem como “os salvadores da pátria“ e faziam de tudo para me desencorajar de projectos de divulgação cientifica que eu estava voluntariamente a criar. Quantas vezes ouvi: “O teu blog não vai dar certo“ ou então “Não faz sentido fazeres isso que e‘ uma perda de tempo“ e etc...
Bem acabados os primeiros 6 meses, e quando chegou a hora de renovar o contrato... fiz as malinhas e fui-me embora. Sim, o espanto foi total, fui acusado de falta de honestidade e de profissionalismo etc, etc e etc... pois... mas que eu saiba um contrato só é renovado se as duas partes concordarem com a renovação... deve ter sido a primeira vez que viram um bolseiro a bater com o pé e a dizer BASTA!
Depois desta péssima experiência em Portugal mudei-me para Praga em Setembro de 2011. Em Outubro consegui a entrevista na minha empresa e em Novembro comecei a trabalhar. Desde o primeiro dia que tenho contrato de trabalho e todas as condições que só poderia sonhar se tivesse em Portugal.
Acho que um dos momentos-chave da minha experiência de vida foi o regresso a Portugal depois de 5 anos a viver no estrangeiro. Por já ter vivido outras experiências, não consegui me conformar com a ideia de que os jovens tem que se sujeitar a recibos verdes, trabalhos precários, estágios não remunerados e voluntariados atrás de voluntariados.
No entanto, sem duvida o momento mais importante foi ter entrado na porta de embarque do avião para a Grécia há 6 anos atrás.
 Hoje, 4 meses depois de ter começado na minha empresa sou gestor de projectos científicos...
... e sou noivo de uma checa que conheci em 2006 em Erasmus. Estamos juntos há 6 anos :)

7.4.11

Cristiana, Tradutora. Leeds, Inglaterra.

Depois de uma licenciatura e uma pós-graduação na FLUP, tive a sorte de encontrar logo um estágio (não remunerado, claro) na minha área que, seis meses mais tarde, passou a contrato e se revelou uma boa experiência em todos os sentidos. Fiquei nessa empresa um ano e meio, enquanto continuava a viver em casa dos meus pais porque o salário não dava para grandes (nem pequenos) voos. Em 2008, mudei-me para Lisboa, a seguir o coração… e um novo emprego.

É verdade que em Lisboa não estávamos muito mal. Tínhamos empregos de que gostávamos e recebíamos sempre no final do mês, algo que mais parece um luxo hoje em dia. Mas “não estar muito mal” nunca foi propriamente o meu sonho e por que é que havíamos de nos contentar com isso...?! Por um lado, queria sentir-me mais valorizada e recompensada, queria ver o meu trabalho e o meu esforço reconhecidos a todos os níveis. Por outro, queria ver mais coisas, conhecer outras pessoas e culturas, sair do típico “cá estamos, vai-se andando”. Queríamos muito viajar e, em Portugal, não era nada fácil…

Viver noutros países também foi algo que eu sempre quis fazer, mas a oportunidade parecia não surgir. Erasmus ficou fora de questão porque os meus pais não tinham possibilidades para isso e depois... As coisas foram acontecendo e quase parecia heresia abrir mão da estabilidade que já tinha, quando a maior parte dos meus colegas de curso ainda continuava à procura de uma oportunidade.

Em finais de 2009, vi um anúncio de uma empresa inglesa e resolvi candidatar-me. Acho que, como acontece com muita gente, não o fiz com grandes expectativas até que… Recebi um e-mail. E depois de uns telefonemas e alguns testes, convidaram-me para uma entrevista em Leeds. Como não tinha nada a perder e a viagem e a estadia de três dias até eram pagas, lá me meti num avião depois do Natal (e vi neve pela primeira vez!). Sem pensar muito, em Fevereiro já cá estava definitivamente e, passado meio ano, o meu namorado juntou-se a mim. Vimo-nos livres de carro, casa, móveis e afins, mandámos os livros para a garagem dos meus pais, e viemos com duas malas de roupa. Como disse o meu pai, “Se correr mal, é só voltar”.

Mais de um ano depois, não podia estar mais satisfeita com esta decisão. Não foi fácil deixar a família, o namorado e os amigos, e vir sozinha para uma cidade onde não conhecia ninguém. E as saudades do sol, da comida, do nosso poder de desenrascanço, etc. conseguem ser terríveis… Mas a vida não pode ser perfeita e, até agora, o balanço é que, sem dúvida, valeu a pena correr o risco. Posso estar sempre ansiosa por ir a Portugal mas, depois de lá estar dois dias, já só quero voltar.

Por cá não gosto do céu constantemente cinzento nem do consumo desenfreado de álcool e de muitas outras coisas! Mas são coisas que vão acabando por perder importância quando se olha para o panorama geral. Gosto muito de trabalhar 7,5 horas por dia e não ter de fazer horas extra nem ir trabalhar para casa para ganhar mais uns trocos. Gosto de poder viajar com alguma facilidade, de ter um apartamento razoável no centro da cidade, onde já posso receber pessoal do couchsurfing. Gosto das aulas de pilates no escritório, de não haver “engenheiros” nem “doutores”.

Claro que isto não é de todo um conto de fadas, como muitas vezes ingenuamente se pensa, mas em geral a vida aqui é mais fácil. Acho que se vive, em vez de se sobreviver. E a experiência pessoal está a ser preciosa. Não conheço outros portugueses em Leeds mas convivo diariamente com pessoas de todos os cantos do mundo!

Continuo a referir-me ao Porto como “casa” e acho que isso nunca vai mudar. Portugal não é nenhum paraíso (muito menos nesta altura...), mas certamente que nenhum outro país o será! Conhecer outras realidades tem-me mostrado que podíamos estar/ser muito melhores mas também me tem ajudado a dar valor ao muito que somos e temos.

Não fazemos planos a longo prazo mas não pensamos voltar tão cedo. Quando nos perguntam quanto tempo cá vamos ficar, costumamos responder que ficamos enquanto “as coisas correrem bem”. Se deixar de assim ser, outro sítio qualquer haveremos de encontrar.

cristiana.reis@gmail.com

21.12.10

continuação deste post...

Sandra Ramalho, Engenheira Civil. Holanda

Depois de mais de um ano e meio desde o meu último e único post o meu percurso pessoal/profissional desenrolou-se de forma surpreendente.

Devo explicar que o facto de ter acabado esse post com “Mas...depois veio a crise!” não foi para criar suspense mas o que se passou de verdade foi que sem querer “cliquei” na tecla enviar e-mail nesse momento... mas a história segue assim:

Essa multinacional para a qual trabalhava decidiu despedir a 30% do pessoal e eu fui uma das despedidas. Lamentável...

Estive desempregada 6 meses e a receber 1000 euros do fundo de desemprego. Em Espanha essa é a quantia máxima que dão (e não me estou a queixar). Tinha direito a esse subsídio durante 11 meses. Nesses 6 meses enviei CVs para centenas de empresas de toda a Espanha. Fui chamada unicamente para uma entrevista numa empresa de Madrid que posteriormente me propôs trabalho, o qual aceitei (com unhas e dentes, claro!). Mas a situação em Espanha está tão mal que os empresários aproveitam-se e pagam salários miseráveis. Por isso, a quem quiser sair de Portugal aconselho que nem pensem em ir para lá, pelo menos por agora e pelo menos na área de engenharia civil.

Embora pagassem mal, gostei muito de trabalhar nessa empresa de Madrid pelo facto de ser uma consultora na área de engenharia civil com projectos internacionais e porque o ambiente do escritório era completamente diferente ao vivido nas obras.

Mas a verdade é que quando chegava a casa sentia um vazio muito grande porque estava a trabalhar para sobreviver, não tinha vida social e muito menos familiar. Pensei bem, e tendo em conta o dinheiro que tinha poupado desde que comecei a trabalhar, decidi deixar Espanha e ir para a Holanda.

Fui muito influenciada por amigos que trabalhavam e trabalham na Holanda. Diziam-me que ia ser muito fácil encontrar trabalho e que neste país só é preciso falar inglês. MENTIRA!

Estive 7 meses à procura! Gastei quase todas as minhas poupanças.

Felizmente encontrei um trabalho muito gratificante em todos os sentidos (sou Engenheira de Projecto + salário de acordo com a minha experiência + benefícios fiscais por ser profissional estrangeira qualificada).

Para encontrar trabalho na Holanda é preciso:

1) Falar Holandês (imprescindível ou então é quase missão impossível encontrar trabalho)

2) Falar Inglês (pelo menos além do Holandês)

3) Ter dinheiro poupado. A vida aqui é muito cara.. comida, renda de casa, telemóvel...o aluguer da minha casa custa 1500 euros/mês, o que me corresponde pagar de renda 750 eur. (com agua, luz, gás, electricidade e internet incluídos)

4) Na Holanda não existe Segurança Social. É preciso pagar um seguro médico mensalmente.

5) Não existe nenhum serviço estatal (pelo menos que eu saiba) que oriente os estrangeiros na procura de trabalho. Existem as agências de trabalho privadas. Foi através de uma agência que consegui emprego. (Se alguém estiver interessado em trabalhar na Holanda, posso fornecer uma lista de agências que contactei assim como outro tipo de informação que facilite a procura de emprego).

Todas estas experiências que tenho vivido são enriquecedoras e não trocaria este percurso por outro. Espero algum dia estabelecer-me definitivamente em algum país...não sei se Holanda, Portugal..ou outro...mas já não sinto receio de mover-me.

18.5.10

Luis Silva, Engenheiro Informático, Estados Unidos da America.

Embora só tenha terminado o meu curso em 2008 (comecei em 2000 ou 2001, já nem me recordo), investi imenso no meu percurso profissional (e essa foi a razão pela qual demorei tanto a terminar o curso).
Depressa percebi que, no nosso país, se quisermos ganhar dinheiro temos de nos desdobrar, trabalhando em vários sítios ao mesmo tempo (e foi por essa via que optei, trabalhando por conta de outrem e a recibos verdes com contratos de prestação de serviços com disponibilidade total e sem horários de trabalho).
Tenho muita sorte por ter conseguido muito boas oportunidades mas...faltava algo.
Faltava, em especial, o reconhecimento pelo trabalho, quer a nível monetário, quer a nível pessoal.
Não e que me pudesse queixar a nível monetário pelo valor total que auferia mas sim pelo facto de ter de me matar a trabalhar para 5 sítios diferentes para ganhar o que achava que merecia...
Um dia, ao fazer uma auditoria de segurança informática, descobri um problema num software de uma empresa Americana e decidi contacta-los para os avisar do problema.
Esse contacto permitiu-me abrir as portas para a entrada nos Estados Unidos e, mais tarde, ofereci-me para trabalhar para o escritório deles no UK durante as minhas ferias de Verão, usando o trabalho que faria como o meu projecto de final de curso.
Isso fez com que me fizessem uma oferta para trabalhar a meio tempo a partir de Portugal, sem quaisquer horários rígidos.
Quando terminei o curso passei a trabalhar a full time para eles e pedi para vir para os Estados Unidos porque amo este pais.
Se tivesse de enumerar as razões pelas quais decidi sair de Portugal, teria de referir algumas que já foram faladas em outros relatos do blog:
- a informalidade: estavam-se pouco marimbando para saber se eu era Engenheiro, Doutor ou se tinha um curso superior sequer. Estavam mais interessados em saber que fazia o trabalho bem feito;
- altamente bem recompensado;
- a "palmada nas costas" quando faço um bom trabalho (coisa que NUNCA tive em Portugal);
- a preocupação com o meu bem estar: os donos da empresa preocuparem-se comigo e com a minha família e quererem saber como estou (e quererem ajudar-me a integrar);
- o facto de saber que neste país podemos fazer uma diferença: se formos trabalhadores podemos conseguir TUDO o que quisermos;
- ver as coisas mexerem e uma excelente organização (face ao que estava habituado em Portugal).
Embora só esteja cá a viver há cerca de 7 meses, já cá tinha estado algumas vezes por períodos de um mês (de cada vez) e posso dizer que este e o melhor país do mundo. Espero nunca ter de sair e um dia ter o privilégio de me tornar cidadão Norte Americano.
Gostava de terminar por dizer que fiz a opção não por estar mal em Portugal (como disse, estava a trabalhar para eles a partir de casa, sem horários e ainda podia trabalhar para outras empresas Portuguesas pelo que conseguia ganhar bastante mais dinheiro) mas sim porque me identifico completamente com este país, com o patriotismo e produtividade destas pessoas e porque não aguentava ver a miséria que vai no meu próprio país...
Eu sei que pode não parecer bem dizer isto mas não me sinto bem rodeado de pessoas com dificuldades (não porque não quero saber delas mas sim porque me preocupo e me mata não poder fazer nada para as ajudar)...
Há muitos egoístas que dizem que não há problemas em Portugal porque estão com duas palas nos olhos e acham que falamos mal porque e "chique" e "simples" mas não tem nada a ver...nada mais me dava orgulho do que ver o meu país prosperar mas como não acredito que isso aconteça quero que os USA se tornem o meu país (e dos meus filhos).
Que raiva que me da ver pessoas dizer "crise? qual crise? eu estou bem". Não tem olhos na cara? Não vêem como as pessoas andam deprimidas? Como desistiram de lutar? Como apenas põem 5 euros de gasolina de cada vez porque não tem dinheiro para mais? Como vão a um café e se sentam sem consumir porque não tem dinheiro? Como as famílias discutem nos super mercados porque o conjugue comprou algo de uma marca mais cara e isso estraga o orçamento?!

Em uma palavra: MISÉRIA.

19.11.09

Catarina Rodrigues, Product Developer, Utrecht, Holanda
Foi por acaso que encontrei este site: estava à procura de informações sobre portugueses na Holanda, uma maneira de melhorar a minha vida social por aqui. Nos últimos meses tenho andado a ler testemunhos sobre pessoas que, de uma maneira ou outra, tiveram um percurso semelhante ao meu, identifiquei-me com diferentes aspectos dos vários posts que li (reconheci pessoas conhecidas) e resolvi deixar a minha história.

Aquilo que me fez sair de Portugal não foi tanto a insatisfação com o que lá tinha, mas sim a necessidade de ter, ver, conhecer mais... crescer, abrir os olhos para o mundo.

A oportunidade surgiu pouco antes de acabar o curso de Eng. Química em Coimbra. Uma professora falou-me no programa Leonardo da Vinci: um programa europeu que coloca jovens licenciados há menos de 1 ano em universidades ou empresas das mais diversas áreas. Candidatei-me e fui aceite numa empresa de aromas e fragrâncias situada perto de Amesterdão. Comecei o meu estágio de onze meses em Janeiro de 2007.

Uma das coisas que me surpreendeu imediatamente foi a falta de formalismos: “trata-me por tu” disse-me o meu mentor. Na altura achei muito estranho que uma pessoa com o doutoramento não esperasse ser tratada por Senhor, Mister, Doutor ou Professor. Notei que aqui as hierarquias são muitos menos realçadas e as relações menos formais embora se mantenha sempre o respeito pelo outro.

Durante este tempo estive em contacto com pessoas das mais variadas nacionalidades, com as mais diferentes e espantosas histórias de vida e de facto os meus olhos abriram-se para outras maneiras de pensar, de viver, de trabalhar até.

No inicio não tinha intensão de ficar mais tempo que o planeado, mas a minha maneira de ver as coisas mudou. Depois de umas curtas e instáveis férias de Natal em Portugal voltei para a Holanda para tentar encontrar um emprego na área que me tinha fascinado durante o meu estágio.

Sair a segunda vez foi provavelmente uma das coisas mais difíceis que fiz, senti que estava a abandonar toda a gente, a falhar e a desiludir a minha família, mas por mais difícil que tenha sido na altura ainda não me arrependi e até agora tenho conseguido manter os dois lados equilibrados.

Passei 3 meses a tentar encontrar um emprego que me motivasse, admito que fui muito picuinhas nesse aspecto mas para mim não valia a pena ficar na Holanda a fazer algo que não me deixasse realizada. Finalmente a minha oportunidade chegou e consegui o emprego que queria na área que queria.

Depois de quase 3 anos a viver aqui (ou por aqui) sinto-me bastante crítica a mentalidades de ambos os lados.

Considero os holandeses muito práticos, organizados, directos e frontais. Gosto da mentalidade de trabalho mas depois do deslumbre inicial aprendi a reconhecer também os defeitos: vejo diariamente situações que roçam o limite e muitas vezes dou por mim a considera-los muito rígidos, mecânicos e tipicamente poupados (forretas!). Para um pais que é visto com sendo muito liberal há muitas coisas em que são demasiado "narrow-minded".

Por outro lado em conversas com colegas e amigos vejo-me a desejar ver implementadas algumas características holandesas (e medidas governamentais) em Portugal. A falta de oportunidades, as longas horas de trabalho e o desequilibrio que parece existir entre a vida profissional e pessoal são coisas que me deixam bastante desiludida.

Posso dizer que tem sido uma experiência enriquecedora mas não imagino viver aqui o resto da minha vida porque há coisas às quais não me consigo habituar: a falta de sol, calor e mar, a sobrepopulaçao deste pais. Além disso, há um mundo muito grande para ver e conhecer e quando surgir uma boa oportunidade estarei pronta para a agarrar.

Não excluo de modo algum a possibilidade de voltar a Portugal porque acho que devo a mim mesma tentar ser feliz no meu país. Embora saiba perfeitamente que nunca terei o mesmo tipo de vida que tenho aqui e apesar das óbvias desvantagens ainda consigo ver um ou outro beneficio.

Mas se não ficar bem em Portugal é fácil: mudo de novo! Acho que essa é uma vantagens de sair do pais de origem: deixamos certas restrições para trás e aprendemos a adaptar-nos muito mais facilmente a novas situações.

1.8.09

Cláudio Coelho, Licenciado em Informática, de Itália e Alemanha para Portugal

Eu licenciei-me em Informática na Universidade Nova de Lisboa em 2005. A primeira experiência que tive lá fora foi na Alemanha onde fiz o estágio em Inteligência Artificial na Agência Espacial Europeia (ESA). Esse estágio abriu-me naturalmente muitas portas, primeiro uma oportunidade de ser consultor num centro de investigação em Portugal e depois a possiblidade de voltar ao estrangeiro, desta vez Itália, novamente para a ESA, onde viria a ficar 15 meses como engenheiro de segmento de terra. Contudo, quando ainda estava em Itália, consegui a oportunidade de começar a trabalhar para projectos da ESA como freelancer no país que quisesse e decidi voltar a Portugal.
Qualquer experiência de viver no estrangeiro (principalmente se for no contexto laboral e não só Erasmus) dá-nos uma perspectiva importante sobre o nosso país de origem. Percebemos que Portugal realmente tem muitas desvantagens, mas também que a frase de "lá fora não é assim" muitas vezes não se aplica e que há coisas em Portugal que são muito vantajosas, nomeadamente a qualidade de vida. Adorei viver e trabalhar fora de Portugal, tanto pelo que me acrescentou a nível profissional, como pelo que me acrescentou a nivel pessoal.
Na Alemanha gostei do facto de que tudo, desde transportes até serviços de saúde, funcionava bastante melhor, mas não gostei do frio, da mentalidade fria de distante das pessoas, da comida e da lingua. Em Itália gostei das pessoas quentes, da comida, do tempo (não tão bom como o do Algarve, mas ainda assim bastante agradável), mas o caos que encontrei foi tal que deixei de pensar que os Portugueses não sabiam o que era civísmo, além de que me incomodou também o facto de ser uma sociedade onde valores superficiais são tão valorizados.
Por sua vez, uns tempos depois de voltar a Portugal, realmente me senti incomodado pela falta de muitas coisas a que me habituei no estrangeiro. Ainda me incomoda a actual situação política, tanto do lado dos políticos, como do lado dos próprios portugueses, a maioria dos quais ainda parece preso a uma mentalidade algo retrograda produto certamente dos esforços do anterior regime. Os portugueses metem facilmente a culpa neste ou naquele político, mas no fundo, os culpados somos nós.
Digo também que este regresso a Portugal ocorreu muito antes do que esperava, mas no fundo, conseguindo as vantagens financeiras de trabalhar para outros países da Europa, apraz-me bastante estar em Portugal pelos benefícios que me oferece em termos de qualidade de vida. É verdade que em Portugal, principalmente no Algarve, não há o andamento cultural que tinha em Frankfurt ou Roma, mas para quem aprecia um ritmo de vida mais pacífico, muita praia e outros pequenos prazeres, Portugal revela-se um um país de residência muito agradável.

Se algum dia deixar de ter a posição profissional vantajosa que tenho, provavelmente experimentarei outro voo lá fora, mas caso contrário acredito que fique por cá enquanto alimento a minha paixão por outras culturas através de muitas viagens.

25.7.09

Bruno Manso, licenciado em engenharia biotecnológica, Liverpool.

Oi. Um amigo apontou-me a direcção deste espaço, desafiando-me a mim e mais algum do pessoal que também está cá por fora a escrever qualquer coisinha.

Bem, no meu caso a coisa passou-se um bocado diferente do que na maior parte do que li até agora. Quando comecei o curso (na Universidade do Algarve) nunca tinha realmente pensado em sair de Portugal. Quanto muito, tinha considerado mudar-me de Faro para Lisboa e lá fazer investigação em genética ou algo parecido. No entanto, algures durante a licenciatura, apercebi-me de que o meio é ideal para sair e conhecer outros sítios e outras culturas. E porque não? De modo geral, um projecto de investigação dura qualquer coisa entre um e três anos e, depois disso um gajo é livre para ir para outro lado e conhecer outros países, novas gentes. E se por acaso me fartasse, haveria sempre a possibilidade de regressar. Parecia-me uma maneira bem interessante de viver os próximos anos. Resolvi estagiar, durante um programa Erasmus, na Universidade de Leicester, no Reino Unido, para fazer currículo e depois de acabar o raio da licenciatura concorri a tudo quanto era de projecto fora de Portugal. Ainda andei a penar, durante qualquer coisa como um ano, mas em Setembro de 2007, quando tinha arranjado um emprego uma pequena companhia de análise de águas a fazer controle de qualidade, recebi a resposta a uma candidatura que tinha feito dois meses antes, perguntando se ainda estava interessado. Preparei a mala e desde então que estou em Liverpool, a trabalhar em virologia.

A verdade é que um gajo é sempre um bocado ingénuo quando pensa nisto e faz planos, e tudo parece cor de rosa. De vez em quando lá bate a saudade de casa, da mini e do tremoço e isto tudo parece um bocado estranho. Mas, e se calhar tive sorte nisso, o grupo de trabalho com que me deparei aqui é bem fixe e há sempre portugueses em todo lado, pelo que um gajo fala um bocadinho tuguês, faz um bacalhauzinho ou bebe um moscatel (contrabando!!), e a coisa fica um bocadinho melhor nesses momentos. Neste momento acho que realmente fiz a escolha certa, e sei que quando acabar este projecto, algures para 2011, vou concorrer a outra coisa, noutro lado. Tenho estado a pensar na Suécia. Ou os Estados Unidos. Qualquer coisa assim.

Daqui a 7 ou 8 anos, quando me fartar de andar a correr de um lado para o outro e conhecer meio mundo (ou talvez só a Europa), a ideia é voltar para casa. A ver.

Isto tenho a dizer. Depois de estar cá um ano e mais que meio, aquela ideia que se tem de Portugal, de como somos pequeninos e capazes apenas de conversa de café, de criticar sem fazer nada, de como somos atrasados e estamos na cauda da Europa em tudo desaparece. Por completo. Acho que tudo isso é mais condição humana que tuga.

24.7.09

Orlando Correia, licenciado em Gestão e Administração Publica, Gibraltar

Sou licenciado em Gestão e Administração Publica, pelo ISCSP, Universidade Técnica de Lisboa. Depois de ter acabado o curso, em 1997, voltei a Madeira, onde depois de enviar muitos CV's por fim lá consegui arranjar um trabalho. Após 3 anos de empregos que não me satisfaziam pessoal, profissional e financeiramente, decidi abandonar o pais em 2001.
Rumei a Londres, onde tinha um amigo que me ajudou na mudança. O inicio não foi fácil, e vi-me forcado a ter de começar a trabalhar no McDonald's. Passado algum tempo, finalmente consegui arranjar trabalho na minha área de especialização.
Foi em Londres que me senti valorizado profissionalmente, e foi Londres que me abriu as portas para o mundo. Passados 3 anos, e depois de uma experiência fantástica, decidi que era tempo de rumar para o Sul, em busca do sol. Fui seleccionado para o posto de "Financial Administrator", em Gibraltar, e mudei-me de armas e bagagens para este pequeno território Britânico. Já cá estou há 2 anos, e admito que apesar de Gibraltar não ser um Paraíso (fiscal), tenho o estilo de vida que sempre desejei.
Mantenho-me sempre informado sobre o que se passa no nosso pais, e apesar de me sentir orgulhoso de ser Português, creio que
voltar a Portugal está fora de hipótese neste momento.

23.6.09

Sandra Ramalho, Engenheira Civil. Alicante, Espanha.
Olá
Li alguns posts e percebi que afinal tudo o que senti até agora, provavelmente, estava a passar em simultâneo com outras pessoas noutra parte do mundo.
Nasci em Vila do Conde e estudei em Viana do Castelo.
No dia a seguir à apresentação do projecto de final do curso, fui tomar café com a minha irmã, e enquanto esperava por ela abri o jornal de noticias, na secção de classificados, e aí estava: "Engenheiro (a) Civil para trabalhar em Espanha". Corri para casa para fazer o meu currículo e peguei no carro do meu irmão e fui até Famalicão entregar o currículo em mão.
Uma semana depois telefonaram-me para uma entrevista e disseram-me que já estava decidido e que o lugar era meu. Era uma pequena empresa portuguesa e disseram-me também que precisavam de algum tempo para organizar a minha ida. Isto foi em Julho de 2005 e só em Novembro do mesmo ano se decidiram a mandar-me para uma "terreola" perto de Valência.
Bem, a experiência foi tão má que seis meses depois despedi-me! Aquela empresa era um desastre.
Um dos arquitectos das obras que eu dirigia perguntou-me se eu não gostava de estar em Espanha, ou se me ia embora porque nao gostava de trabalhar nessa empresa. Eu respondi que gostava muito de continuar em Espanha, mas não podia continuar naquela empresa. Foi então que ele me deu o nome e a direcção de uma empresa e fez-me prometer que ia entregar o meu currículo. Foi o que fiz. Apresentei-me nas instalações da Ferrovial em Valência e pedi uma entrevista com o responsável dos recursos humanos que depois de meia hora de conversa diz-me: "Sinto muito, mas neste momento não temos nenhum trabalho para ti".
Bem, voltei à terreola onde vivia (a 30 minutos de Valência) com a ideia de fazer a mala e voltar para Portugal nesse mesmo dia. Mas no momento em que mesmo estacionava o carro recebo um telefonema da secretária do Delegado de Valência da Ferrovial Agroman S.A., porque ele queria falar comigo. Voltei para trás, a uma velocidade de cometa. Estavam uns 30 graus, e o meu carro não tinha ar condicionado.Tinha o cabelo pegado à testa, a maquilhagem derretida e conduzia com o pé direito descalço porque inchou com o calor e não cabia no meu sapato de tacão.
Conversei mais de uma hora com o Delegado da Ferrovial. Pediu-me que na segunda-feira seguinte fosse a Madrid para outra entrevista nas instalações da Ferrovial em Madrid. Decidi voltar para Portugal nessa segunda feira e de caminho parei em Madrid, fiz os testes psicotécnicos e segui para Portugal.
Uma semana depois mandaram-me um e-mail a dizer que tinha sido seleccionada para trabalhar em Alicante e que me apresentasse ao trabalho dentro de 3 dias. Foi uma loucura! Outra vez para trás...Enchi o meu Polo com os meus "tarecos" e cá estou eu!
Mas...veio a CRISE!!

5.6.09

Hugo Marinho, Contabilista, Macau

Olá a todos
Em 2004 terminei a licenciatura em Contabilidade e Administração no I..S.C.A.L e começei por trabalhar em Portugal durante uns tempos em empresas desta área.
Certo dia, vejo um anúncio no Expresso Emprego a pedir um Contabilista para Timor Leste e resolvo concorrer, pelo gosto da aventura e do desconhecido, sem grandes esperanças de ser seleccionado.
Para meu espanto, fui eu o escolhido e em Janeiro de 2005 lá rumei a Dili.Escusado será dizer que fui encontrar uma realidade totalmente oposta à que estava habituado, mas que me foi conquistando aos poucos, pelo estilo de vida descontraído e relaxado que ali se praticava.
Razões de diversa ordem fizeram-me voltar a Portugal em Abril de 2006, mas o bichinho de viver noutro país continuou bem vivo. Entretanto voltei a encontrar um novo trabalho em Portugal e por lá continuei durante quase 2 anos, tendo pelo meio feito uma estupenda viagem pela Ásia para matar as saudades daquele continente.
Eis que algures em Novembro de 2007, vejo um anúncio novamente no Expresso Emprego a recrutar um Contabilista para Macau. No meio de 300 candidatos fui o escolhido e no dia 29 de Abril de 2008 aqui cheguei, curioso para saber como seria esta aventura.
A experiência por estas bandas tem sido positiva, embora Macau seja um sítio muito pequeno e por vezes uma pessoa se sinta saturada com as mesmas caras e os mesmos locais. Nada que uma viagem pelos países vizinhos não resolva...
Quanto ao futuro, gostaria de ter uma nova experiência de vida em África antes de voltar a Portugal no sentido de contribuir para o desenvolvimento do nosso país, por vezes tão maltratado neste blogue...
Considero Portugal um óptimo país para se viver e estes anos que fui vivendo no exterior reforçaram o meu orgulho em ser Português.
Para os que estão renitentes em abraçar uma aventura no estrangeiro, aconselho-vos a seguirem em frente, pois acreditem que só terão a ganhar com o conhecimento de novas culturas e estilos de vida.
Se quiserem podem dar uma olhadela em
http://hotelmacau.wordpress.com/

10.5.09

Lénia Fernandes, Conservadora-Restauradora de Fotografia, dos Estados Unidos para a Madeira


Há algum tempo que sigo este blog, e tenho estado à espera de que mais alguém publicasse novos comentários. Fartei-me de esperar, e porque não, decidi que ia eu partilhar um pouco da minha história. Pode ser que tenha algum interesse, ainda que talvez seja muito prematura.
Quando li este blog primeira vez, identifiquei-me logo com o testemunho da Joana Pedroso, que está na mesma área que eu, e acabou por parecer um foco de esperança.
Estive nos últimos 5 anos a tirar o curso em Conservação e Restauro em Portugal, e acabei (wuhu!) no passado mês de Outubro.
Devido a muitas razões, entre as quais o não estar em sintonia com a mentalidade das pessoas mais directamente relacionados com a organização do meu curso, acabei por sempre tentar fazer o possível para me afastar da universidade o mais rápido possível. A mentalidade que prevalece não é propriamente muito cooperativa e positiva, pelo contrário. Não estava interessada em estar num ambiente onde regra geral não interessa educar, interessa fazer o que privilegia o indivíduo. Já quando comecei a ter aulas práticas de restauro quis fazê-lo fora da faculdade, ainda que com pessoas sempre a ela ligadas, mas era um pequeno passo em frente para mim.
O último ano do meu curso é para estágio, o qual os alunos devem "arranjar", mais ainda aqueles que não estão propriamente interessados em pegar numa das áreas de interesse da faculdade, as tais generalistas de que a Joana já falava. No meu caso, quis pegar mais em fotografia. E queria outro ambiente. Contactei várias instituições, ainda pensei em Erasmus, mas acabei por desistir da ideia. As instituições que tinham acordo com a minha Faculdade não pareceram ter interesse em que eu para lá fosse, e isso ia acabar por ser o mesmo que ficar em Portugal.
Falei com pessoas com mais conhecimentos que eu na área de Conservação de Fotografia, abordei outras instituições, e esperei por algo positivo. Por fim fui aceite no num laboratório nos Estados Unidos. Não deixava de ser num ambiente universitário, nem sem ser direccionado para a investigação, mas havia ali mais qualquer coisa de apelativo. Não, não sabia onde me ia meter, em que ambiente, que condições, mas fui à mesma, depois de tratar de imensa burocracia para obter o visto.
E fui. A diferença ao nível de ambiente era completamente abismal. Primeiro que tudo, trabalhei com pessoas que são referências na área, que tratava pelo primeiro nome, ao contrário da idiotice que prevalece em Portugal do "senhor doutor". Muitos não merecem sequer o título mas exigem-no. De facto o profissionalismo prevalece, não o fingimento.
É muito cómico pensar que um dia tive uma dúvida num livro que estava a ler, e acabei por ir perguntar ao autor cara a cara, com alguma vergonha, pensando que talvez fosse eu que estivesse a interpretar mal o que lá estava escrito. A inibição foi completamente desnecessária, ou ele não teria dito: "De facto enganei-me aí. Vamos procurar a referência certa". Se fazia algum trabalho e pedia opinião, era bem visto e elogiada de imediato. Para mim isso não era comum.
Quando é que este tipo de humildade apareceria num contexto académico em Portugal? Talvez eu tenha muito más referências, mas penso que não será muito comum.
Cumpri e desfrutei do meu trabalho, aprendendo muito mais do que alguma vez antecipava. Percebi algo que já devia ser óbvio: promovendo a educação das pessoas é que se consegue fomentar o interesse na cultura. Conheci tanta coisa que pensei que só veria nos filmes, muitas que adoraria rever. Criei laços com imensas pessoas, não fosse o ambiente familiar que havia no laboratório. Aperfeiçoei o meu Inglês, e fiquei muito orgulhosa de para algumas pessoas eu até já ter sotaque no Midwest.
Também passei imenso tempo sozinha, dava por mim a querer falar em Português mas não tinha com quem o fazer (a não ser quando usando o Skype). Cheguei a expor-me a -16ºC (que saudades de sentir o calor do sol...). Passei horas sem fim em transportes públicos (que deixam muito a desejar na frequência). Vi que por muito que a América queira ser um local de igualdade, o racismo e a divisão de classes existe. O sistema de saúde acaba por parecer primário, quando nem quem tem seguro está livre de pagar rios de dinheiro para cuidar de si. Ao nível de educação, há mais prestígio em entrar numa universidade privada do que numa pública, e paga-se (e muito) para isso, o que exclui automaticamente aqueles com menos posses. Sim, o sentimento de competição e consumismo são impressionantes.
No fim, quando voltei, em Maio de 2008, nunca pensei que me custasse tanto. As pessoas significavam mais para mim do que aquilo que eu quis admitir. Tinha agido de modo independente por algum tempo, a tomar as decisões sobre a minha vida, e não queria regredir. Voltar a Portugal ia pôr termo a isso. E pôr os pés na faculdade foi um autêntico massacre. Voltei ao ambiente de que tinha fugido, mas tinha de ser. Como disse, acabei o curso, e é isso que interessa.
Não é novidade nenhuma que as oportunidades de emprego estão a diminuir. Farto-me de pensar que ter acabado o curso agora foi uma altura péssima, mas melhor do que a alternativa de continuar a pagar propinas sem destino. Já não é fácil arranjar emprego quando se trata de trabalhar com cultura, agora ainda pior. Mas claro, não sou de todo a única nesta situação. O que não deve faltar são pessoas a contar os tostões todos, ou simplesmente à procura deles. Questiono-me se tem interesse ficar num local onde não parece haver interesse no que posso fazer.
Provavelmente por ter tido uma experiência positiva acho que o meu futuro não está em ficar, mas sim em partir; acho que é o denominador comum de quem saiu e sentiu que valeu a pena correr riscos. Quando fazemos isso tornamo-nos mais competitivos, e daí mais produtivos, o que justifica a fama dos portugueses que trabalham no estrangeiro em oposição aos que se mantêm no país.
Tenho feito por arranjar oportunidades, agora falta-me aceitação. Veremos. Com sorte daqui a uns tempos tenho algo novo para escrever, numa nova perspectiva.
O que interessa é manter a força. Vai chegar a minha vez.

8.3.09

Nuno Pires Costa, Eng. Eletrotecnica (Telecomunicacoes), Praga

Com 4 ou 5 anos de experiência na área, na PT trabalhava num segmento muito especifico.

A progressao era bloqueada pela estrutura em si. Dinossauros tecnológicamente desactualizados que me diziam que “a idade ainda e’ um posto”.
De uma equipa de 12 pessoas, as 3 tecnicamente melhor preparadas tinhamos entre 25 e 35 anos.
O meu salario bruto era de aproximadamente 1000 euros (Agosto 2008).
Sempre acompanhei a dinamica internacional do mercado em que trabalho, e lia regularmente publicacoes online, opinando quando achava que assim devia fazer. Em Maio de 2008 recebi um convite de um dos principias fabricantes de equipamentos da area, para ir para Baltimore. Oferta: 3.000 USD.
Recusei a oferta, pois a pesar de ser um aumento para mais do dobro, nao queria ir para Baltimore. A 30 mins de WashingtonDC, e 2 horas de NY, pareceu-me um suburbio feito cidade. Seria como ir para Torres Vedras… a meia hora de Lisboa, e a duas do Porto.
Continuei na minha rotina da PT.
No ultimo dia de Julho de 2008, depois de deixar o “bichinho” roer-me uns meses, achei que deveria sair. Nao so da PT, mas do pais.
Ainda sem nada a nao ser a decisao e a motivacao, anunciei na PT a minha saida.
Na PT tentaram “renegocviar” a minha situacao, mas a oferta era ridicula, comparada com os numeros da Europa.
Após 3 semanas, uma centena de CVs enviados, e algumas centenas de anúncios lidos, tinha 6 propostas reais.
1 para Dublin, 3 para Londres, 2 para Praga.
Dublin nao me atraiu muito. Londres e’ cidade que visito regolarmente ha’ algum tempo, e nao me apetecia specialmente ir trabalhar para la, pois sabia quei a morar num suburbio qualquer.
Dia 2 de Setembro escolhi Praga e assinei para um ordenado quase quatro vezes maior que o da PT.
Dia 25 de Setembro comecei, e sem ter feito 5 meses de casa, tive o meu primeiro aumento. 10%. Nada mau, para os tempos de crise global em que vivemos.
Foi a decisao ideal.
Estou a 150 euros de Lisboa, em 3 horas de voo, logo tenho amigos a visitarem-me regularmente, e vou a Lisboa passar um fim-de-semana quando entendo.
A comunidade portuguesa local esta dividida entre os que ca trabalham, e os que ca estudam.
Tudo boa gente.
Foi a melhor decisao que tomei nos ultimos tempo.
Estou muito contente e acho que vim na altura ideal da carreira e da vida.
Com 30 anos e 5 anos de telecomunicacoes, represento uma mais-valia real para a minha entidade empregadora, e tenho a maturidade que nao tinha quando deixei a faculdade.
Não me parece que volte. Alem do resto, sinto-me reconhecido, finalmente.

Para esclarecimentos ou informacoes: nuno.pires.costa@sapo.pt

8.2.09

Carla Neves, Engenheira biotecnológica, Haia, Holanda.

A minha saída de Portugal começou primeiro pelo desejo de estagiar por 6 meses num ambiente novo, segundo por encontrar neste novo país gente simpática, com excelente espírito de trabalho e camaradagem e consolidou-se numa mudança definitiva para a Holanda por causa do namorado holandês que, para além de ser um companheiro excelente e incomparável, ainda se esforça por tentar falar português com a minha mãe o que a faz muito feliz mesmo tendo a filha longe. A história que me trouxe à Holanda: pais de realização pessoal e profissional...já que cada uma destas vertentes da vida é tão importante como a outra.

No últimos anos dos meus estudos (Engenharia biotecnológica na Universidade do Algarve), quando se começa a pensar no que virá mais para a frente, comecei a planear/ desejar fazer o meu estágio no estrangeiro. Se me calhasse a sorte de receber a famosa bolsa Erasmus, de que se ouvia falar cada vez mais e que se tornou muito popular, a possibilidade do estágio no estrangeiro seria mais facilitada porque a pressão económica sairia um pouco dos ombros dos meus pais. Sem saber ainda para onde ir, ou se iria de todo, comecei por fazer um curso de Castelhano porque na altura a Espanha parecia-me um dos possíveis países de uma lista incompleta e bastante dinâmica de escolhas.

No ano em que me pude candidatar (embora ainda com o projecto final de curso para fazer e que viria a ser concluído depois do meu estágio) candidatei-me à bolsa de Erasmus (eu e mais umas 20 pessoas) e não fui imediatamente contemplada mas após uma redistribuição do dinheiro disponível para as bolsas (que não tinha sido aplicado nas outras faculdades por falta de candidatos) acabei por receber cerca de 1000 euros que chegou exactamente para pagar o alojamento durante os 6 meses e meio do meu estágio na Holanda, Universidade de Wageningen, no Departamento de engenharia alimentar e de bioprocessos (sendo as viagens, alimentação e afins patrocinado pelos pais).

A escolha do local foi primeiro uma escolha pelo país (os mais interessantes devido à área de investigação eram na altura a Bélgica e a Holanda) mas alertada por um dos professores que, na Bélgica, a partir do momento que percebessem que eu sabia um pouco de francês nunca mais falariam em inglês escolhi então a Holanda.

Acabado o estágio voltei para Portugal para me enterrar na biblioteca da Universidade com as minhas colegas até acabar o projecto final de curso. A conclusão da minha licenciatura coincidiu também com o fim do curso do meu namorado que entretanto estagiou nos EUA.

Era agora altura de escolher onde arranjar poiso, juntos, e de maneira a que ambos pudessemos trabalhar. A 1ª hipótese de ficar nos EUA, onde lhe ofereceram um doutoramento, foi descartada, porque eu não tinha nada em vista e não é fácil arranjar emprego sem ter visto de permanência. A 2ª hipótese de ficar em Portugal, já que ele também recebeu a proposta para um doutoramento no IST por parte de um professor português que estava de sabática nos EUA, também foi descartada porque arranjava ele trabalho e ficava eu no desemprego. A 3ª hipótese de ficar na Holanda pareceu então a mais prudente já que o meu CV apresentava alguma mais valia para concorrer a empregos cá. Mudei-em então, em 2006, de bagagens e...canudo.

Passado 2 meses à procura de emprego e quase a dar em maluca por não ter nada para fazer aceitei um emprego fora da minha área (suporte de vendas) que me valeu uma valente lesão no pulso mas alguma genica em contactar pessoas e ganhar à vontade em entrevistas. Acabei por descobrir que quase tudo e todos que têm a ver com Biotecnologia na Holanda passaram por Wageningen e isso acabou por jogar a meu favor. Entretanto arranjei emprego na minha área onde rapidamente progredi, quer em função quer em salário: após um ano como assistente de investigação passei a engenheira (junior) de bioprocessos e, 6 meses mais tarde, a engenheira de bioprocessos. E ele está agora prestes a finalizar o doutoramento cá (à 3ª foi de vez).

Sinto que ainda tenho muito que aprender mas que me encontro no ambiente ideal para isso e ao mesmo tempo sinto-me valorizada ao contribuir para a resolução dos problemas que se nos deparam ao longo dos projectos em que estou envolvida. Dá-me também algum gosto pessoal saber que depois de mim contratam outros portugueses (já que, verdade seja dita, se eu não tivesse um desempenho que agrada á gerência isso não aconteceria).

Só posso comparar a minha experiência aos meus amigos mais próximos que ficaram em Portugal, onde tiveram de largar mão da Biotecnologia ou então são tratados no emprego como se tivessem de dizer obrigado por poderem trabalhar e são mal pagos, e à outra parte (MAIORIA) que emigrou para fazer doutoramentos (4 no reino Unido, 1 na Alemanha, 3 na Holanda) ou para trabalharem em empresas: existem mais empresas de Biotecnologia na Holanda mas menos estudantes do que em Portugal e as bolsas de investigação cá são mais que suficientes para se ter uma vida desafogada por isso pergunto-me quando é que esta situação vai ser corrigida em Portugal (quer pelo incentivo á criação de empresas de perfil científico/ tecnológico ou pelo menos por um planear mais inteligente dos cursos que abrem todos os anos e que só servem para o desemprego ou para a fuga de cérebros para o estrangeiro).

Estar longe da família é compensado com os telefonemas e as conversas no messenger, com a minha mãe a tentar aprender inglês aos 65 anos para poder falar com o meu namorado e com as viagens de avião que compradas com alguma antecedência não pesam na carteira (ou com os pais a virem de Portugal de carro de propósito para trazerem o enxoval!). Estar longe dos amigos cada vez se aplica menos: porque muitos caem por aqui como moscas no mel, e os outros encontro-os nos jantares anuais quando todo o grupo de emigrados chega a Portugal para a férias de Natal.

O curso de espanhol foi muito divertido, mas já esqueci tudo o que aprendi e lembro-me apenas o que sabia de ver televisão espanhola nas férias de verão. O foco passou agora para os cursos de holandês que vou tendo (hobbie caro) e que dão frutos devagarinho (à velocidade da lesma) mas que espero que se consolidem com o tempo e a prática. Com o doutoramento dele finalizado pensamos passar um ou dois anos noutro país para ambos podermos ter a experiência de viver e trabalhar no estrangeiro (EUA ou Suiça, se a crise financeira não atrapalhar os planos) mas definitivamente voltaremos à Holanda. Entretanto sonhos de voltar a Portugal...talvez na idade de reforma para apanhar sol no Algarve!

31.1.09

Sofia Santos, Neurocientista e Psicóloga, Alemanha

O meu testemunho vai deixar muita informação de fora, porque senão seria um testamento e não um testemunho. A minha decisão de sair do país prendeu-se mais na busca de conhecimento. Talvez tenha tido azar, mas considero os cursos de psicologia em Portugal muito atrasados, agarrados literalmente a bases do inicio do século passado, ou limitados em termos de conhecimentos científicos, e durante o meu curso senti-me frequentemente "revoltada" com o que nos era incutido. Nunca fui carneiro de seguir manadas e desconfiava seriamente (a internet ainda estava no inicio) do que nos era transmitido em grande parte das aulas. Discutia abertamente com os colegas sobre isso, mas a maioria "comia e calava" que é como quem diz não questionava. Quando acabei o curso, sem cunhas a busca de emprego foi muito complicada (muito), mas não queria por nada desistir de exercer o que tinha estudado. Durante algum tempo trabalhei fora da área e estagiei voluntariamente na minha área para construir currículo. Admito que tenho persistência, algo que nem toda a gente tem, nem tem que ter, é apenas uma característica. Entrei num mestrado, fiz estágio voluntário desse mestrado e tive a sorte da abertura de concurso para a instituição onde estava a estagiar. Entre muitos candidatos, fiquei. Só foram considerados candidatos que tivessem estagiado na instituição, informação que devia ser mais clara, na minha opinião, e poupar o tempo (e a esperança) a muitas pessoas. Uma questão de respeito. Por ser uma instituição do estado tinha um emprego, e não o trabalho pago a recibos verdes (o cancro de Portugal). Iniciei mais cursos de formação, abri consultório. Enfim, tinha a carreira em ascensão, mas isto depois de vários anos de muito, muito esforço e, quero acrescentar, muita angustia. Presenciei muita coisa injusta em Portugal, muita cunha, muitas situacoes que, se contadas aqui na Alemanha as pessoas têm dificuldade em acreditar. Desde colegas saidinhos do curso e, passando à frente de pessoas que estagiavam voluntariamente durante três anos (!!!), obtinham posicoes imediatas através de concursos (do estado) abertos de propósito para os colocar (e não, não foi pelas notas) até pessoas que conheço com média insuficiente que conseguiram entrar na faculdade empurrando para fora os últimos "oficialmente" colocados. Tudo isto se passava em Portugal antes de eu sair, não tenho razoes para acreditar que tenha mudado.

Queria estudar fora e esse pensamento continuava na minha cabeça, cheguei a ir a Inglaterra a uma entrevista. Na altura fiquei impressionada com o que vi. As instalacoes psiquiátricas (e o tratamento das pessoas com doenças do foro psíquico) eram anos de luz das nossas. Resolvi informar-me de bolsas de estudo, andei de embaixada em embaixada (na altura eram poucas as informacoes na net) e acabei por obter informacoes de mestrados em inglês na Alemanha. Candidatei-me e ao mesmo tempo candidatei-me a uma bolsa alemã (DAAD). Pensei "se conseguir é sinal para ir". Consegui e pensei "bolas, agora tenho mesmo que ir" ;-) Lembro-me perfeitamente do meu pai me dizer "então deixa cá ver se entendo, vais despedir-te do teu emprego, largar o consultório, para ires estudar cérebros num país em que não falas a língua com uma bolsa dum ano, é isso?". errr...sim, era isso. Ninguém que eu conheça teria feito o que fiz. Mas eu pensei "ou vou agora ou nunca mais vou", porque entretanto criam-se responsabilidades, e as oportunidades para estudar perdem o seu timing.

O curso no Max-Planck na Alemanha foi talvez o período mais difícil da minha vida. A exigência e a competição não têm paralelo a nada que conheça em Portugal. Durante dois anos não se respira, não se tem actividades extras, poucos "cafézinhos" com amigos (que são os colegas de curso, porque vivemos numa espécie de ambiente big brother, todos juntos a estudar), mas muito café (o café aqui...sem comentários). O dia era ocupado com aulas teóricas de manha (inicio às 08h) e aulas prácticas e lab rotations de tarde, depois tinha-se tempo para comprar comida e estudar para o dia seguinte. A vida era passada nos institutos, nas aulas ou a estudar na biblioteca caso tivesse alguma hora vaga. Aprendi mais nesses anos sobre a vida e o mundo do que em toda a minha vida em Portugal e finalmente aprendi muito sobre o meu país. O bom e o mau. Não há nada como sair do nosso país para aprendermos acerca do lugar de onde viemos. Continuei os meus estudos, viajei muito, conheci muitas culturas, religiões e pessoas diferentes. Confirmei o que sempre desconfiei, o atraso da educação em Portugal é hoje em dia, para mim e na minha área, assustador.

Encontro-me novamente numa encruzilhada, a finalizar um doutoramento e a ter que decidir o meu rumo. Sempre fui uma sonhadora (acho que se nota he he) e alimentava o desejo de um dia voltar e poder transmitir o meu conhecimento aos jovens, empurrar a psicologia e a investigação para a frente. Pô-los a pensar criticamente, a abrirem a mente para as recentes descobertas cientificas que se fazem pelo mundo fora, dinamizá-los e motivá-los, acima de tudo valorizá-los, porque sinto (e senti na pele em Portugal) que isso é uma falha grave que caracteriza o país, por muita boa vontade que se tenha a pensar que não. Não creio que volte, embora vá ponderar a hipótese devido às saudades. As possibilidades fora do país são, em geral, melhores, mais justas e sem cunhas*, o que pesa muito nas decisões (é uma balança dificil de equilibrar).

Para quem pense na Alemanha para estudar ou trabalhar, gostaria só de avisar que o ambiente de trabalho é muito competitivo e individualista, mais do que em Portugal. Isso não é nada fácil para nós portugueses. Os chefes são como em todo o lado, há os bons e os maus, exploradores e autoritários. Independentemente disso, na Alemanha valoriza-se o talento e à partida acredita-se no talento. Assim como nos EUA, onde também trabalhei pouco tempo. Aqui há hierarquia e utiliza-se o "você" para situacoes formais, algo que é uma grande desvantagem em relacao aos países de lingua inglesa. No entanto, doutores só quem tem doutoramento. O meu supervisor é professor universitario, tem dois doutoramentos (!!!) e todos o tratamos por tu e pelo primeiro nome, e foi assim em quase todos os departamentos onde trabalhei (mas nao quer dizer que o seja em todo o lado e em todas as áreas).
Mais uma nota, a adaptação à cultura do norte da Europa leva um tempo, e não é um ano que serve para dizer que nos adaptámos, levam anos. Isto se não tiverem apoio familiar, como era o meu caso. Quem vier com amigos ou família as coisas tornam-se muitíssimo mais fáceis.

Isto já é um testamento! Qualquer questão que queiram colocar, façam-no pelo mail (neurosss@yahoo.com.br). Boa sorte para os vossos sonhos :-) Sofia Santos, neurocientista e psicóloga, Alemanha

* quanto a cunhas, há cunhas em todo o lado, obviamente. Mas aqui são raras (não faz parte da mentalidade), eu nunca as vi, pois normalmente as pessoas são escolhidas pelas competências.

29.1.09

Ana Couto, Engenheira Civil. Hamburgo, Alemanha

Como diria o "outro", "a verdade é que me fartei!". Foi isso.
Nunca tive intenções de sair do meu país, para trabalhar, viver. Mas o meu namorado, na altura já me tinha dado a entender que gostaria de voltar à cidade onde tinha feito um estágio, integrado no programa Leonardo da Vinci.
Um dia, quando regressava a casa lá para as 21h, quase dois anos depois a trabalhar como Directora de Obra numa pequena construtora, telefonei ao meu namorado e disse: "Estou farta disto! Vou contigo para a Alemanha quando quiseres!".
E foi nesse dia que tomei a decisão. A verdade é que não foi uma decisão muito difícil, pois o meu patrão nisso, só me facilitou a vida! Fiquei com pena de deixar os trabalhadores e o pessoal do escritório. Claro que agradeço ao meu ex-patrão por me ter dado a oportunidade que muitas outras empresas não me quiseram dar. Porém, eu cheguei mesmo a dizer-lhe: "uma pessoa tem de sentir o reconhecimento do seu trabalho, seja monetariamente, com promoções, com bónus, ou pelo menos com a palavra de apreço do patrão. E eu não tenho nenhuma destas coisas nesta empresa."
Desde o dia em que disse ao meu patrão que me vinha embora até fazer as malas, ainda foram uns 10 meses. Eu "servia tão pouco" para trabalhar (tal como os restantes 20 trabalhadores da empresa :) ), e mesmo assim o meu ex-patrao não aproveitou logo a oportunidade para me substituir. Esperou 10 meses e mesmo depois do meu contrato finalmente acabar, ainda me ligou para saber se podia ir resolver uns problemas a algumas obras. Enfim...

Já cantava António Variações:
"Muda de vida se tu não vives satisfeito
Muda de vida, estás sempre a tempo de mudar
Muda de vida, não deves viver contrafeito
Muda de vida, se tens a vida em ti a latejar!"

Percebi que Portugal era pequeno demais, nao apenas geograficamente :), para poder realizar-me profissionalmente. Em Portugal somos tantos engenheiros, que se quiseres fazer algo mais apenas porque sabes que consegues, apercebes-te que ser-se "normal" nao é suficiente. Tens de ser "dos melhores" para conseguir uma oportunidade. E mesmo esses, arrumam as trouxas e fazem-se à estrada.

O meu caminho foi bem mais longo do que os caminhos dos que aqui já escreveram. Eu vim sem trabalho para a Alemanha, agarrada ao namorado que tinha conseguido emprego, e tive de começar quase do zero. Tinha apenas o meu curso universitário em engenharia civil e 2,5 anos de experiência em obra. Não sabia falar uma palavra de alemão. Vim ao sabor da aventura sem ter a noção do que me esperava.
Escrevo neste blogue porque sei que muitos o consultam para obter informações de como sair de Portugal para trabalhar no estrangeiro. Pois bem aqui ficam umas dicas para essas pessoas:
1. Informa-te bem sobre o país onde queres trabalhar sobre os teus direitos e deveres como imigrante desse país.
2. Esquece as informações que te dão nos postos da Loja do Cidadão, sobre Trabalhar no Estrangeiro. Pesquisa por ti, na Internet, sobre pessoas que o fizeram e não te acanhes a perguntar como fizeram.
3. Atenção a assistência médica. Sendo cidadão da UE, tens ainda 6 meses de assistência médica a partir do dia em que deixas de trabalhar. Ou seja, tens 6 meses para arranjar emprego para voltares a poder ser assistido num hospital público (a não ser que tenhas capacidade financeira para pagar seguro privado...).
4. Tenta arranjar emprego ainda em Portugal.
5. Nao te metas à estrada sem nada na mão, e com os tostoes contados...

Ano e meio depois de muita perseverânça, muito trabalho, e muita auto-estima, encontrei exactamente o que procurava: um emprego numa grande empresa, disposta a reconhecer o meu trabalho a vários níveis, num projecto a nível europeu deveras interessante. Finalmente, "a cereja no topo do bolo".

Quem quiser mais informações, pode contactar-me: lemos.filipa@gmail.com
Quem quiser apenas acompanhar a minha história, pode fazer através do blogue que acabei de criar http://ainda-vou-a-tempo.blogspot.com/, mesmo com o intuito de informar aqueles que estão dispostos a dar "o salto". Neste blogue podem encontrar algumas informações de como me adaptei a este país, e ter também alguma nocão de quanto dinheiro foi sendo preciso.

Sabem? A nossa vida, somos nós que a conduzimos!