17.6.07

Sónia van der Zwaan, Engenharia do Territorio. Utrecht, Holanda
'O que me fez emigrar para outro pais?'.
Tenho duas versões prontas utilizando sempre a mais romantizada, a do amor, aquele do verão de '94. Mas na realidade a opção entre dois paises, um Portugal em que vivia, e a Holanda não foi muito difícil.
Começando pelos factos… finais de 2001. Ambos licenciados pelo IST, eu em engenharia do território (um misto de urbanismo e planeamento regional urbano) ele com o mestrado em engenharia de sistemas e robótica. No meu caso o trabalho precário a recibos verdes, o ‘vá de ferias por uns meses que agora não temos trabalho para si’, para ele a inexistência de industria no sector, a não ligação das empresas às universidades, o não escoamento de conhecimento e a não vontade de ser bolseiro até a eternidade numa universidade de vagas preenchidas. Do outro lado uma Holanda a chamar onde urbanismo é profissão de importância e com muitas empresas de alta tecnologia à espera de candidatos.
Acho que na realidade emigrei por razões económicas e essencialmente sociais. Para além das condições laborais, a Holanda era para mim um país extremamente atractivo. A maneira de viver e estar. Tudo muito organizadinho, tudo muito a funcionar.
Vivo numa vila, num polder, a menos de 30 km de Amsterdam, Utrecht e/ou Amersfoort. Ideal para as crianças (que entretanto nasceram) com a promessa de um dia ir viver na cidade grande.
Para um jovem em início de vida, conciliar emprego, filhos, casa, por aqui é mais fácil, a vida menos corrida. A possibilidade de ter uma casinha com jardim, andar de bicicleta, trabalhar em part-time para poder ficar pelo menos em casa um dia por semana com as crianças (e outro dia o pai), chegar a casa antes das seis, viver junto da natureza e junto das cidades, e acima de tudo sentir-me protegida e o saber que existe justica social.
Passados quase seis anos não sinto saudades do meu país, nada que não se supere pelas duas idas anuais. Sempre me senti pouco portuguesa e sei que nunca me sentirei holandesa (crise de identidade?). No entanto nem tudo são rosas e ainda hoje me deparo com situações as quais me tento adaptar, afinal são duas culturas bem diferentes, o relacionamento pessoal é mais dificíl e a sociedade holandesa caminha cada vez mais para o individualismo. Tenho a certeza que se não tivesse nenhuma ligação afectiva a este país aqui não vivia, parece um contrasenso com o que escrevi inicialmente, mas conheço poucos portugueses que por aqui vivem ou para estudar ou trabalhar sem a tal ligação que tolerem ou gostem deste país. Digamos que todos temos fascínios diferentes ou melhor motivações e a minha vê mais pontos positivos do que negativos.
Por enquanto não sou capaz de voltar para Portugal, isto se tiver de depender do sistema, seja ele o de saúde, o de justiça ou educacional porque tenho filhos! Acho que crescem mais felizes e com mais qualidade de vida aqui. Sei que é egoista o não querer voltar, o não contribuir para o desenvolvimento do meu país. Mas se as oportunidades algures são melhores, porque não as aproveitar? Portugal talvez na reforma e se possível algures no Sudoeste Alentejano!

1 comment:

Vânia said...

Os portugueses só saiem porque os deixam sair. Se Portugal estivesse verdadeiramente interessado no desenvolvimento não deixava sair pessoas habilitadas, bons profissionais, dotados de conhecimento e vontade de trabalhar. É o próprio país que empurra os talentos lá para fora. É oconstante "medo que alguém seja melhor que eu" dos que estão no poleiro.

E afinal hoje em dia não há fronteiras. Há vôos em conta para todo o mundo, e temos a internet! Somos cidadãos do mundo!