21.9.08

Tiago, Arquitecto Sócio - Gerente de Empresa de Arquitectura. Paris

Foram 12 anos.
12 anos duros a trabalhar em Lisboa como Arquitecto, mas que considero um caminho e uma escola que me permitiu estar onde estou hoje.
Sempre fui, e sou, uma pessoa que acaba por condicionar a vida ao trabalho e não o inverso. Sou assim e talvez por isso, por fazer aquilo que gosto e ser alguém dedicado - porque não me chateia - e que rapidamente ascendeu às metas pretendidas.
Construí muita coisa, desenhei muita outra, e sonhei ainda mais.
No entanto, e com o espírito aventureiro que sempre tive decidi começar a olhar la para fora, no dia em o desrespeito por aqueles que estão à nossa volta tomou proporções drásticas.
….. Epa e que grande mundo se abriu de repente….
A partir desse dia toda a realidade que me estava próxima começou-me a incomodar :
Os berros do « patrão » ; a facilidade que se descarta alguém que trabalhou anos e anos ao nosso lado – só porque « já não é rentável » ; as invejas mesquinhas dos colegas que resultavam em atitudes dantescas na relação profissional e pessoal ; ….
Creio que todos conhecem a realidade do mundo do trabalho em Portugal, e ainda mais na área da Arquitectura onde quase todos os profissionais estão a recibos verdes, ou com estatuto de trabalho precário, que resulta num quase pavor de perder o trabalho. Pois todos contraímos empréstimos para a compra da casa e do carro, e temos de os pagar.
E « eles » os patrões a fazerem-se valer disso.
Dia 3/9/2007 sai' de Portugal.
Troquei Lisboa, os amigos, uma casa grande, o meu carro, os meus copos junto ao Tejo, por Paris – uma casa minúscula, um passe para os transportes públicos, um ordenado quase igual ao que tinha, um tempo miserável, quase sempre cinzento, um francês que falo mais ou menos e que escrevo ainda pior …. mas um « emprego ».
E aqui vi e vivi aquilo que nunca pensei :
Não são os trabalhadores que têm medo dos « patrões », é o inverso; não são os trabalhadores que têm de ir horas e horas para se inscreverem na Segurança social, ou nos diversos organismos oficiais – é a empresa que faz isso tudo. Não são os trabalhadores que assumem as « dores » da empresa, são os « patrões ».
Acredito que é devido à permanente contestação social dos franceses, que os levam a ter os direitos que em Portugal « ouvimos falar ».
Trabalha-se 35 horas por semana (façam as contas) e eventualmente, e muito bem pagas, 39 Horas. Direito a férias é mais que assumido; Direito e obrigação a formação (anualmente); Direito a subsidio para almoço, Direito a …. Direito a ….
Sim em Portugal a legislação de trabalho é talvez uma das mais duras da Europa – se fosse aplicada.
Aqui hà 2 tipos de contratos ou CDD – contrato a tempo determinado (que se tem de justificar junto do trbunal do trabalho o porquê da sua aplicação) e CDI – contrato a tempo indeterminado (que para despedir là vêm as indeminizações).
Tambem ha' os honoràrios ou o freelance, mas é impensavel colocar alguém dentro destes moldes a trabalhar na empresa – é que o contrôle dos serviços governamentais existe !
(Mas como qualquer pais que tem uma viragem no sistema politico, começam a ser equacionados estes valores - o Sarcozi prepara-se para mexer nestes direitos… la vêm as greves….)
E' por estas razões que o mercado aqui é muito mais rotativo do que em Lx, pois é o trabalhador que esta sempre a procura de melhor e não o inverso.
Por « ironias diversas do destino » acabei como socio e Gerente da empresa, e passei de um Salariado (aquilo que vim a procura em Paris, pela estabilidade, tranquilidade, etc) a « patrão ».
Vivi e vivo essas duas realidades num pais onde os direitos e garantias estão de facto ao lado do Trabalhador.
Curioso, trabalho quase o mesmo, senão um pouco menos que trabalhava em Lisboa, e ao fim de um ano jà sou socio e acabei por ficar gerente, por me ter começado a envolver no controle financeiro da empresa.
E passado um ano o meu conselho é para aqueles que perguntam: SIM, VALE A PENA !

arq-tcf@hotmail.com

6 comments:

Anonymous said...

Era isto mesmo que eu precisava de ler. Eu tb sou arquitecta e trabalho em Lisboa. Efectiva. Mas estou a tentar ir trabalhar para Londres. E no meio de tantos olhares suspeitos que me condenam, no imediato, à loucura, pergunto-me se eu nao poderei ter um bocadinho mais, ultrapassar-me, conhecer além fronteiras e mentalidades? Ler o teu Post fez-me acreditar, mais ainda, que tudo é possível. E ás vezes é preciso pagar para ver e, no fim, pode mesmo valer a pena.Obrigada pela história inspiradora!Tania

Anonymous said...

Eu só questiono onde irá parar este país assim?? todos os meus amigos estão a fugir eu serei tb mais um no grupo...
até onde irá parar esta falta de respeito para conosco?
Desejo fortemente que isto chegue a tal ponto, que os patroes tenham de virar empregados de novo para sustentar o seu negócio e aí sim, darem valor aos outros...espero que este bando de charlatões que não faz nada e explora os outros nos ateliers aqui de portugal tenha um fim pior ao que nos destinou....só assim irão dar valor a quem precisa.
Força e coragem a todos.

Anonymous said...

Parece-me uma Muito boa ideia, que o "patrão" comece como empregado e depois acabe como patrão - é o que quase toda a gente pretende. Nao fosse a falta de respeito destes perante os seus colaboradores ser empregado ate tem vantagens, mas dado que os abusos sao mais que muitos leva-nos todos a pensar - era tao bom ter a minha empresa.

Sim a reflexão que se deve tirar é de facto, porquê hoje tantos profissionais de segunda linha saem do nosso Tugal ....

Anonymous said...

Na mesma altura comecei a pensar o mesmo, mas ainda não consegui dar o passo seguinte...

Mas todos os dias penso que estou mais perto de o fazer...

Anonymous said...

A vida são um conjunto de opções que tomamos ao longo do tempo. Ha decisoes faceis e opçoes dificeis. Mas o importatante é termos consciencia das nossas opções e estarmos perfeitamente conscientes do caminho que estamos a propos tomar.

Anonymous said...

Dou força e apoio todos os que tiveram coragem de dar esse passo. Boa sorte Tiago