27.5.07

Ricardo Carvalho, Químico. Copenhaga, Dinamarca
Tudo começou com a experiência Erasmus em Praga, Republica Checa. O facto de estar num ambiente completamente diferente, onde não existem "julgamentos morais" atraiu-me bastante e permitiu-me crescer como pessoa e conhecer-me melhor. Foi sem duvida um teste, e a resposta à minha pergunta foi positiva; sim não teria qualquer problema em viver longe de Portugal; o balanço seria positivo. No final do Erasmus conclui a licenciatura e logo tentei voltar para Praga. Uma empresa Portuguesa começava a investir no mercado de Leste e estavam a construir uma unidade industrial nos arredores de Praga, pelo que entrei em contacto com eles e perguntei se estariam interessados em que realizasse um estágio. Para espanto meu acharam muito boa ideia e disseram-me que não estavam a pensar ter lá nenhum Português mas até seria bom, podia sempre fazer a ligação entre a Rep. Checa e Portugal. Estava entusiasmado! Ainda para mais prometeram-me que começaria a trabalhar em Pt e depois que iria para a Rep. Checa. Entretanto a construção da unidade sofre atrasos e nunca mais me chamaram para iniciar o trabalho em Pt. Comecei a perceber que não queriam saber de mim, não era importante, pelo que me virei para outras opções e aceitei um trabalho que não estava de acordo com as minhas qualificações mas não deixei de o realizar com agrado e obtive bons resultados. Os problemas começaram a vir quando tentei criar valor para a empresa; ofereci-lhes grandes ideias que os iriam por a liderar o mercado em que se inseriam, e ao princípio até concordaram, problema foi por em prática, porque somente o filho do Boss ficou encarregue de fazer alguma coisa. Escusado é dizer que nada foi feito, ou à boa maneira Portuguesa "deixa andar";o que fiz foi "pôr-me a andar".
Farto desta mentalidade mesquinha decido fugir. Agarrei-me à primeira oportunidade que apareceu para sair do país. Arranjei um emprego em Moçambique, pelo que seria uma experiência nova na minha vida. Entretanto passado uma semana de lá estar vim embora. Esqueci-me que ia para um país onde os Tugas tiveram e onde ia trabalhar para Tugas, ou seja saí de Portugal mas não me livrei da mentalidade. Depois desta experiência tenho a certeza que Portugal não está muito atrás dos países africanos.
De volta a Portugal resignado e triste, sem opções um amigo deu-me uma luz; Pá anda para a Dinamarca, eles precisam de químicos; e assim foi. Sem nada de concreto lá fui eu, e com muita ajuda ao fim de um mês e pouco arranjei um emprego num laboratório.
Até agora tem sido uma experiência fantástica. Aparte dos preços altos e da dificuldade em arranjar casa, tudo corre muito bem. As pessoas são simpáticas, toda a gente fala inglês e no trabalho nem se sente as hierarquias. Toda a gente é respeitada do mesmo modo, seja o presidente ou o empregado mais reles. Aqui fazemos parte do todo e sentimo-nos importantes. Toda a gente trabalha em equipa e para o sucesso geral. Quanto ao salário nem vale apena falar. Pagam bem e de acordo com as qualificações.
A minha pergunta agora será se algum dia terei vontade e regressar? Será que o nosso país vai mudar alguma coisa e vai começar a acreditar nas pessoas com valor?