18.5.10

Luis Silva, Engenheiro Informático, Estados Unidos da America.

Embora só tenha terminado o meu curso em 2008 (comecei em 2000 ou 2001, já nem me recordo), investi imenso no meu percurso profissional (e essa foi a razão pela qual demorei tanto a terminar o curso).
Depressa percebi que, no nosso país, se quisermos ganhar dinheiro temos de nos desdobrar, trabalhando em vários sítios ao mesmo tempo (e foi por essa via que optei, trabalhando por conta de outrem e a recibos verdes com contratos de prestação de serviços com disponibilidade total e sem horários de trabalho).
Tenho muita sorte por ter conseguido muito boas oportunidades mas...faltava algo.
Faltava, em especial, o reconhecimento pelo trabalho, quer a nível monetário, quer a nível pessoal.
Não e que me pudesse queixar a nível monetário pelo valor total que auferia mas sim pelo facto de ter de me matar a trabalhar para 5 sítios diferentes para ganhar o que achava que merecia...
Um dia, ao fazer uma auditoria de segurança informática, descobri um problema num software de uma empresa Americana e decidi contacta-los para os avisar do problema.
Esse contacto permitiu-me abrir as portas para a entrada nos Estados Unidos e, mais tarde, ofereci-me para trabalhar para o escritório deles no UK durante as minhas ferias de Verão, usando o trabalho que faria como o meu projecto de final de curso.
Isso fez com que me fizessem uma oferta para trabalhar a meio tempo a partir de Portugal, sem quaisquer horários rígidos.
Quando terminei o curso passei a trabalhar a full time para eles e pedi para vir para os Estados Unidos porque amo este pais.
Se tivesse de enumerar as razões pelas quais decidi sair de Portugal, teria de referir algumas que já foram faladas em outros relatos do blog:
- a informalidade: estavam-se pouco marimbando para saber se eu era Engenheiro, Doutor ou se tinha um curso superior sequer. Estavam mais interessados em saber que fazia o trabalho bem feito;
- altamente bem recompensado;
- a "palmada nas costas" quando faço um bom trabalho (coisa que NUNCA tive em Portugal);
- a preocupação com o meu bem estar: os donos da empresa preocuparem-se comigo e com a minha família e quererem saber como estou (e quererem ajudar-me a integrar);
- o facto de saber que neste país podemos fazer uma diferença: se formos trabalhadores podemos conseguir TUDO o que quisermos;
- ver as coisas mexerem e uma excelente organização (face ao que estava habituado em Portugal).
Embora só esteja cá a viver há cerca de 7 meses, já cá tinha estado algumas vezes por períodos de um mês (de cada vez) e posso dizer que este e o melhor país do mundo. Espero nunca ter de sair e um dia ter o privilégio de me tornar cidadão Norte Americano.
Gostava de terminar por dizer que fiz a opção não por estar mal em Portugal (como disse, estava a trabalhar para eles a partir de casa, sem horários e ainda podia trabalhar para outras empresas Portuguesas pelo que conseguia ganhar bastante mais dinheiro) mas sim porque me identifico completamente com este país, com o patriotismo e produtividade destas pessoas e porque não aguentava ver a miséria que vai no meu próprio país...
Eu sei que pode não parecer bem dizer isto mas não me sinto bem rodeado de pessoas com dificuldades (não porque não quero saber delas mas sim porque me preocupo e me mata não poder fazer nada para as ajudar)...
Há muitos egoístas que dizem que não há problemas em Portugal porque estão com duas palas nos olhos e acham que falamos mal porque e "chique" e "simples" mas não tem nada a ver...nada mais me dava orgulho do que ver o meu país prosperar mas como não acredito que isso aconteça quero que os USA se tornem o meu país (e dos meus filhos).
Que raiva que me da ver pessoas dizer "crise? qual crise? eu estou bem". Não tem olhos na cara? Não vêem como as pessoas andam deprimidas? Como desistiram de lutar? Como apenas põem 5 euros de gasolina de cada vez porque não tem dinheiro para mais? Como vão a um café e se sentam sem consumir porque não tem dinheiro? Como as famílias discutem nos super mercados porque o conjugue comprou algo de uma marca mais cara e isso estraga o orçamento?!

Em uma palavra: MISÉRIA.

16 comments:

neca said...

awesome!

Anonymous said...

Neste momento, para quem quer sair a dificuldade não é ter coragem para ir...é ter dinheiro para sair, chegar a um país estranho e nos manter-mos independentes logo no 1º mês.
Infelizmente vejo que quem tem oportunidade para sair, pelo menos na minha área, é quem tem dinheiro e a crise passou-lhes ao lado.
Coitado do desgraçado que sonha com uma oportunidade para sair e crescer e nem dinheiro para sair do país tem.

Felicidades a todos os que conseguem sair e prosperar.

London Calling said...

Gostei do post menos quando dizes que não podes fazer nada para ajudar. Não o podes fazer se escolheres o caminho facil. Se criasses uma empresa em PT com esses valores do merito e da palmada nas costas estarias a dar emprego e a gerar riqueza ao País. Suponho que tiraste o curso numa pública (ISEL?IST?) e durante esses anos que escolheste ter trabalho extra para ter o nivel de vida que ambicionavas o estado (todos nós Portugueses que descontamos) pagou (e bem, visto ser um curso em que se aprende a fazer realmente alguma coisa) a esmagadora maioria do teu curso esperando ter a recompensa. E tu escolheste devolver o investimento aos EUA. Não sirvo de exemplo. Fiz semelhante. Quem me dera a mim ter green card...

Duarte Aragão said...

não podia concordar mais contigo na parte de como sabe bem não interessar se é doutor ou eng.eu sou outro informático à espera de uma oportunidade como a que tu tiveste :)

London Calling said...

caro "Anonymous". Esse é o problema dos muitos licenciados em Portugal. Há dinheiro para irem de pópo pra Face, ou de irem as Queimas. Mas não ha dinheiro para investirem em eles mesmos. Mesmo sem um tostão no bolso todos sabem alguma coisa. Traduzir documentos, fazer explicações em algo, entregar pizzas ou lavar pratos. O problema é que o Dr Eng etc não gosta de sujar as mãos e espera que o País aposte neles quando nem eles apostariam. Um canudo não é um certificado de inteligência.
Alguns dos meus colegas bifes são Eng Mecanicos, Eng Zoofilos e davam baile a muitos acabados de sair do IST (em Eng Inf). Não importa ter um papel a dizer que sabes fazer. Tens de saber fazer. Se ninguem se importa que tenhas um papel a dizer que sabes fazer algo é problema teu e cabe a ti adaptar e rumar ao sucesso. Considera-te grato por seres Europeu.

Luis Miguel Silva said...

Anonymous:

Lamento estares nessa situacao...so te posso aconselhar a tentares juntar algum dinheiro e arriscares sair do pais. Tudo de bom para ti e todos os que desejem uma vida melhor!

London Calling:

Por acaso estas errado amigo. Tirei o curso no Instituto Superior Politecnico Gaya (uma privada em Vila Nova de Gaia). Paguei o curso do meu bolso e, ao contrario do que pensaste, ainda andei a descontar para pagar o curso dos outros que foram para publicas ;o)

Infelizmente nao tive notas suficientemente altas para ir para uma publica (sempre quis ir para a FEUP) - mas foi por parvoice minha, quando andei no secundario so me dedicava as cadeiras que gostava pelo que tirava notas excelentes a informatica e o resto era tudo entre o 10 e o 14 eheheh...mas o pior foi mesmo nao me ter dedicado para os exames nacionais! Nao tive nota minima a matematica ou fisica (vi que so precisava de 1.5 no exame nacional de matematica para terminar o 12o ano e tirei... 3.2 lolol). :oD

Acabei por trabalhar na FEUP como consultor de seguranca e tive um percurso profissional muito proximo da academia! Essa e outra razao porque detesto essa dos "doutores" e "engenheiros"...sao uns idiotas arrogantes que nao servem para nada (na pratica). Sei bem os podres da academia e por isso e que nao acredito em cursos superiores (embora reconheca a necessidade deles [pelo valor que os outros lhes dao] POR ESTATUTO...).

Para terminar, sobre abrir uma empresa em Portugal, NEM PENSAR amigo!

Tenho pavor de me enterrar em dividas pela coisa nao funcionar...

O governo nao recompensa empresas prosperas, porque haveria eu de investir no meu pais?

No entanto, ca nos Estados Unidos a coisa e diferente...e se pudesse nao hesitava em abrir uma empresa! :o) [mas falta o tal green card para o poder fazer].

Para terminar (comentando o teu ultimo comentario de resposta ao anonimo), tens toda a razao...um curso nao e certificado de inteligencia!

Alias, quantos eu vi tirarem o curso antes de mim porque nao trabalhavam e se "podiam dedicar ah arte de socializar"? Ou seja, tambem nao estudavam nada...mas como passavam o tempo juntos a jogar cartas e mais nao sei o que, tinham montes de amigos na sala de aula que lhes faziam os trabalhos e lhes passavam copianco durante os exames...

Eu bem via o copianco a passar pela sala mas ninguem me passava a mim porque nao os conhecia...enfim!

A minha familia (directa) sempre foi classa media/pobre. Eu nao tinha de trabalhar por obrigacao mas optei pelo fazer muito cedo (desde arranjar, por exemplo, trabalhos de verao aos 14 anos). Essa atitude reflectiu-se nas minhas opcoes de vida e foi por essa razao que comprei o meu primeiro apartamento aos 21 anos e sai de casa dos meus pais.

Um abraco!
Luis Miguel

Anonymous said...

Caro London Calling, essa coisa de chegar, traçar um perfil e atacar ás 5000 pedras é bastante feio.
Lembre-se que há muito licenciado como eu, que trabalhou logo desde os 18 e fez o curso a trabalhar ao mesmo tempo!! Carro, popó?? No meu caso é mais BUS, pois o dinheiro que eu ganhava era para investir em mim e na minha licenciatura.
Não percebo, todos atacam os licenciados, mas esquecem-se que grande parte deles trabalhou de baixo o tempo todo, aturar situações que não lembram a ninguém só para ter dinheiro para pagar propinas e material escolar.
Por isso não vejo qual o mal, em pessoas como eu que lutaram na vida e não guardaram economias pq era impossivel para pagar o curso, terem ambição de algo melhor na vida.
Esse discurso a mim e aos que batalharam como eu,não encaixa.
Lembre-se, há pessoas de berço de ouro que tiram o curso só para nunca vir a sujar as mãos...Há muita pessoa que já sujou as mãos durante muitos anos, para formar-se e trabalhar em algo por amor á camisola.
Quem trabalha e estuda, não tem direito a noitadas e esbanjar dinheiro. Quem vive dos pais tem esse luxo!
Quem tem pouco afunda-se juntamente com o país e com as mentalidades que acham que por ser licenciado é sinal de parasita!!!
Estudar de noite e trabalhar a full time não é pêra doce...e o meu curso não era teórico para cabular ou empinar matéria, era bem prático.

É por existir esse tipo de pensamento por parte dos superiores do governo, que isto está assim. Os "parasitas" (licenciados) não têm direito a condições de trabalho, contracto e o estágio é a escravatura do novo século.
Quem quer uma vida melhor e tem ambições, sai.

Luis Miguel Silva said...

Anonymous,

Eu acho que o LondonCalling percebe isso e contra ele mesmo fala! A verdade e que, percentualmente, e capaz de haver uma maioria de pessoas na situacao dele [segundo ele proprio disse, que ate foi para uma publica] e que nao tiveram de trabalhar para suportar o curso! (ou, se tiveram, nao o tiveram de fazer numa privada) :o)

Abraco,
Luis Miguel

Elma said...

Andava à espera de um update há largos meses... :D

Felizmente ou infelizmente, quer-me parecer que há cada vez mais jovens que por necessidade-opção saem do país. Contem as vossas histórias :D

Para a/o colega anónimo que quer sair, só posso sugerir escolher um destino Europeu (devido às limitações legais de vistos que se impõem fora de UE) e ver se existe algum amigo por lá que possa ceder o sofá durante uns dias. Poupar o suficiente para uma viagem low cost e um quarto partilhado... Londres, Paris... Com conhecimentos da língua local em poucos dias consegue-se um trabalho num restaurante, paga as contas durante um mês ou dois enquanto estamos em contacto com os recrutadores locais para empregos da nossa área.
Mais do que poupar dinheiro, é uma questão de investir... Pesquisar o local certo onde as nossas capacidades são procuradas.

Eu também trabalhei para pagar propinas (mas admito que não foi só à conta disso que arrastei o curso uns aninhos).
Fiz empréstimo para pagar Erasmus: a bolsa só chega em Dezembro e sai-se de Portugal em Agosto...
Num estágio internacional (remunerado) também tive que recorrer ao crédito porque a bolsa era insuficiente. Posso dizer que tive sorte nos meus investimentos estratégicos, podia ter sido diferente, ainda pode vir a ser, ninguém sabe... O certo é que recomendo a todos procurarem aquilo que anseiam encontrar.

Quem não arrisca, não petisca.

Rolando Almeida said...

Caro Luís,
Li o seu texto e fez muito bem. É um bom exemplo e foi empreendedor e merece a recompensa. Sou licenciado em Portugal talvez da última geração para a qual bastou tirar um curso e ter um emprego quase directo sem ter de prestar grandes provas. Cada vez mais esta realidade muda.
O que acontece é que nós portugueses ainda somos muito paternalistas e tratamos os nossos jovens como crianças pequenas. Dou-lhe um pequeno exemplo para não me alongar mais: sou pai, o meu filho tem 2 anos e meio. Ensino-lhe os números e as letras, brinco a contar e a soletrar. Quando conto isto a colegas meus, quase todos me dizem que faço mal pois um dia ele não se vai interessar pela escola porque chega lá a saber as letras e os números. Mas curiosamente nunca conheci um só pai que me dissesse que a escola é que trata as crianças como estúpidas, pois podia exigir-lhes talvez um bom bocado mais.
Felicidades e não perca o ímpeto empreendedor.

P.J. said...

Uau! Um update no blog finalmente! Pensei que este blog estivesse moribundo... Quanto a ter q juntar guita para sair do pais tal nao e inteiramente verdade. Pode-se arranjar trabalho a partir de Portugal sem ter que ir ás cegas para outro país. Falo por experiencia própria:
-primeiro fiz entrevistas técnicas por telefone
-depois fui convidado pela empresa
a viajar para fazer uma entrevista cara-a-cara.
Quando digo que fui convidado estou a dizer que me pagaram o voo e a estadia no hotel (nao gastei um tostao).
Depois ainda arranjei mais uma entrevista com outra empresa.
No fim ambas me ofereceram trabalho e depois foi a "chatice" de ter que escolher entre as duas ofertas....
Além disso naquela altura (2007: bons velhos tempos antes da crise) muitas empresas dispunham-se a oferecer um rellocation package que incluia estadia no hotel 2 ou 3 semanas até arranjar apartamento....
Como escolha para o país destino recomendo que escolham um país que voces saibam de antemao que tenha falta de pessaoal qualificado na vossa área... Torna as coisas mais simples.

Luis Miguel Silva said...

Ola amigo Orlando,

Obrigado pelas palavras bondosas.
Acabei por nao perceber se esta em Portugal ou se tambem esta emigrado?

Nao tenho ainda filhos (embora espero ter em breve) mas nao vejo mal nenhum em ensinar as nossas criancas antes de chegarem a primaria?

Sei que nao tem nada a ver com o assunto mas o que nao concordo e quando os pais forcam as criancas a serem o que eles nao puderam ser! Isso sim e complicado para uma crianca... :o)

Um abraco,
Luis Silva

manblie said...

Como eu te percebo, 7 anos de universidade em Portugal, 7 anos de trabalho em Angola and still counting, pelo meio casas, filhas etc etc.
A nivel de empresas Portuguesas, felizmente há 7 anos que não trabalho para nenhuma. Duas americanas, duas francesas e uma sul-africana, todas elas de longe mais reconhecedoras do teu valor que as portuguesas.
A informalidade no trato todos se tratam pelo nome sem o prefixo do Sr. Dr. ou Sr. Eng.. é de longe melhor que a hipócresia das empresas portuguesas.

Anonymous said...

Vai e não voltes. Só contam os que cá andam.

Anonymous said...

Luís Silva,

Um bem haja para si e o seu post.
Gostei imenso de ler sobre a sua experiência e como tudo foi acontecendo.
Devo dizer que há muito tempo que esperava por um post sobre os EUA, tal como aquele que descreveu. Eu nutro exactamente do mesmo sentimento e as suas palavras fizeram-me sorrir. Mais uma vez, muito obrigada. Espero que se torne cidadão americano assim que possível.
Eu também vivi em Boston quase dois anos. Infelizmente, tive de sair dos EUA, mas estou neste momento na Estónia. Ao contrário do que muitos pensam, é um país tecnologicamente avançado (fundadores do Skype), com imensas influências finlandesas e a eficiência é impressionante. Estou a adorar e a informalidade é algo que me tranquiliza.

Queria também deixar uma mensagem de esperança a todos aqueles que acreditam em si mesmos...dentro ou fora de Portugal.

Um abraço,
Isabel

zematias said...

Olá Luís,

Sinto-me profissionalmente "preso" em Portugal. Falta de reconhecimento, salários miseráveis, falta de visão...
Daí que tenho pensado em fazer uma emigração virtual: trabalhar para um país estrangeiro, a partir de Portugal. PERGUNTA (para ti e para quem souber responder): Há receptividade por parte das empresas de países mais desenvolvidos (que pagam melhor)? Há um plano de acção adequado para a prospecção? Alguma advertência ou sugestão? :) obrigado. z.
zematias@gmail.com
www.zematias.com
(agradeço de antemão a todos os que responderem)