15.5.13

Sofia Lopes, licenciada em Línguas Literaturas e Culturas - Alemão e Inglês, Alemanha

Lembro-me de ter 14 ou 15 anos e de passar horas a fio a imaginar como seria quando entrasse na universidade pela primeira vez. Não via a hora de agarrar nas minhas tralhas e pôr-me fora duma ilha demasiado pequena para uma miúda demasiado vivaça como eu. Para já, entrar na universidade implicava automaticamente sair dos Açores, onde nasci e vivi até aos 18 anos, e só me concentrava em pôr o meu plano em prática. As coisas correram bem e em 2008 entro em Psicologia no ISCTE, em Lisboa. Foi uma reviravolta de 360o. O êxtase inicial transformou-se, em meio ano, numa relação de amor-ódio com Lisboa. Gostava do curso, dos colegas ainda mais, do ambiente festivo em geral, mas já da capital....bom, digamos que a Lisboa que conhecia durante as férias de Verão nao era de todo a selva que me começava a engolir aos bocadinhos, 24h sobre 24h. Quase 2 horas por dia em transportes públicos para chegar à faculdade, hora e meia de regresso a casa em hora de ponta (no melhor dos cenários) , gente bem mais individualista e pouco simpática que em nada se assemelhava ao povo açoriano...enfim, a minha cabeça cozinhava a bom gás uma caldeirada de perguntas e dúvidas quanto aos próximos 3-5 anos do meu futuro. No final do primeiro ano comuniquei aos meus pais a decisão: "não quero continuar a viver em Lisboa. Vou pedir transferência para Aveiro e assim mudo-me com vocês". O meu pai não reagiu nada bem, como seria de esperar, com uma cara de "más tu 'tás a gozar comigo?!" Um ano de propinas deitado fora, como ele disse, não era brincadeira. E quem é que garantia aos meus pais - fiadores da filha universitária - que as coisas iriam correr bem desta vez?.. Eu, pois claro.  Foi, de longe, o pior Verão da minha vida: os meus pais decidiram deixar os Açores e rumar a Aveiro, terra natal do meu pai e, como tal, passámos meses a empacotar 26 de vida. Enquanto isso, dei de caras com o dilema "transferência de curso" e centenas de burocracias à moda portuguesa, e cheguei à conclusão que não podia continuar o curso de Psicologia na Universidade de Aveiro. Apeteceu-me largar fogo aos 123 caixotes à minha volta e a uma casa com pouco mais do que 4 paredes brancas. Só havia uma solução e era nada mais nada menos do que começar do zero: candidatar-me novamente à universidade e escolher um curso que fosse mais ou menos a minha cara. Opções? Pouquíssimas. Sempre gostei de línguas e o único curso cujo plano de estudos me parecia ligeiramente mais interessante do que os outros era o de Línguas, Literaturas e Culturas - ramo Inglês/Alemão.
Prometi a mim mesma que não podia falhar uma segunda vez e basicamente esforcei-me à séria. Fiz o curso em 3 anos, sem nenhuma cadeira deixada para trás e apenas 1 recurso. Decidi fazer o meu 3o ano em Erasmus para melhorar o meu nível de Alemão e candidatei-me como primeira opção à única universidade com apenas 1 vaga. Precisava duma aventura e pêras e decidi arriscar e ir sozinha. Fiquei com a vaga e aprendi mais num semestre na Paedagogische Hoschule Heidelberg (University of Education Heidelberg) do que em 2 anos no dep. de Línguas e Culturas da Uni. de Aveiro. Adorei de tal maneira a experiência e o sistema de educação completamente inovador que acabei por ficar outro semestre. Apesar das d-o-z-e cadeiras que tive num semestre, ainda arranjei um part-time como babysitter a receber 10 euros à hora (mais do que se recebe a trabalhar como empregada de mesa ou num bar na Alemanha) e a vida não podia correr melhor. Resultado: depois de Erasmus, com o curso terminado e com um futuro negro à minha espera em Portugal, decidi pôr o Mestrado em stand by, ou "águas de bacalhau", e tentar arranjar trabalho por cá. Estou prestes a acabar um ano como "aupair" e o meu futuro vai, seguramente, continuar por cá.

Sair de Portugal, mesmo que temporariamente, foi a melhor decisão que tomei. E a todos os que continuam com o rabo sentado no sofá, com um canudo na gaveta, à espera do fundo de desemprego que não tarda está a acabar, a queixarem-se, a lamentarem-se das condições que o país oferece, sem coragem para saírem...pensem duas vezes. Nós somos a geração que pode e deve lutar por um futuro melhor, já que os nossos pais e gerações anteriores estão demasiado consumidos por uma vida inteira de trabalho e sacrifícios que lhes levaram tudo. Até a esperança.

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