29.1.09

Ana Couto, Engenheira Civil. Hamburgo, Alemanha

Como diria o "outro", "a verdade é que me fartei!". Foi isso.
Nunca tive intenções de sair do meu país, para trabalhar, viver. Mas o meu namorado, na altura já me tinha dado a entender que gostaria de voltar à cidade onde tinha feito um estágio, integrado no programa Leonardo da Vinci.
Um dia, quando regressava a casa lá para as 21h, quase dois anos depois a trabalhar como Directora de Obra numa pequena construtora, telefonei ao meu namorado e disse: "Estou farta disto! Vou contigo para a Alemanha quando quiseres!".
E foi nesse dia que tomei a decisão. A verdade é que não foi uma decisão muito difícil, pois o meu patrão nisso, só me facilitou a vida! Fiquei com pena de deixar os trabalhadores e o pessoal do escritório. Claro que agradeço ao meu ex-patrão por me ter dado a oportunidade que muitas outras empresas não me quiseram dar. Porém, eu cheguei mesmo a dizer-lhe: "uma pessoa tem de sentir o reconhecimento do seu trabalho, seja monetariamente, com promoções, com bónus, ou pelo menos com a palavra de apreço do patrão. E eu não tenho nenhuma destas coisas nesta empresa."
Desde o dia em que disse ao meu patrão que me vinha embora até fazer as malas, ainda foram uns 10 meses. Eu "servia tão pouco" para trabalhar (tal como os restantes 20 trabalhadores da empresa :) ), e mesmo assim o meu ex-patrao não aproveitou logo a oportunidade para me substituir. Esperou 10 meses e mesmo depois do meu contrato finalmente acabar, ainda me ligou para saber se podia ir resolver uns problemas a algumas obras. Enfim...

Já cantava António Variações:
"Muda de vida se tu não vives satisfeito
Muda de vida, estás sempre a tempo de mudar
Muda de vida, não deves viver contrafeito
Muda de vida, se tens a vida em ti a latejar!"

Percebi que Portugal era pequeno demais, nao apenas geograficamente :), para poder realizar-me profissionalmente. Em Portugal somos tantos engenheiros, que se quiseres fazer algo mais apenas porque sabes que consegues, apercebes-te que ser-se "normal" nao é suficiente. Tens de ser "dos melhores" para conseguir uma oportunidade. E mesmo esses, arrumam as trouxas e fazem-se à estrada.

O meu caminho foi bem mais longo do que os caminhos dos que aqui já escreveram. Eu vim sem trabalho para a Alemanha, agarrada ao namorado que tinha conseguido emprego, e tive de começar quase do zero. Tinha apenas o meu curso universitário em engenharia civil e 2,5 anos de experiência em obra. Não sabia falar uma palavra de alemão. Vim ao sabor da aventura sem ter a noção do que me esperava.
Escrevo neste blogue porque sei que muitos o consultam para obter informações de como sair de Portugal para trabalhar no estrangeiro. Pois bem aqui ficam umas dicas para essas pessoas:
1. Informa-te bem sobre o país onde queres trabalhar sobre os teus direitos e deveres como imigrante desse país.
2. Esquece as informações que te dão nos postos da Loja do Cidadão, sobre Trabalhar no Estrangeiro. Pesquisa por ti, na Internet, sobre pessoas que o fizeram e não te acanhes a perguntar como fizeram.
3. Atenção a assistência médica. Sendo cidadão da UE, tens ainda 6 meses de assistência médica a partir do dia em que deixas de trabalhar. Ou seja, tens 6 meses para arranjar emprego para voltares a poder ser assistido num hospital público (a não ser que tenhas capacidade financeira para pagar seguro privado...).
4. Tenta arranjar emprego ainda em Portugal.
5. Nao te metas à estrada sem nada na mão, e com os tostoes contados...

Ano e meio depois de muita perseverânça, muito trabalho, e muita auto-estima, encontrei exactamente o que procurava: um emprego numa grande empresa, disposta a reconhecer o meu trabalho a vários níveis, num projecto a nível europeu deveras interessante. Finalmente, "a cereja no topo do bolo".

Quem quiser mais informações, pode contactar-me: lemos.filipa@gmail.com
Quem quiser apenas acompanhar a minha história, pode fazer através do blogue que acabei de criar http://ainda-vou-a-tempo.blogspot.com/, mesmo com o intuito de informar aqueles que estão dispostos a dar "o salto". Neste blogue podem encontrar algumas informações de como me adaptei a este país, e ter também alguma nocão de quanto dinheiro foi sendo preciso.

Sabem? A nossa vida, somos nós que a conduzimos!

3 comments:

vazio said...

Olá Ana!
Parabéns pela tua coragem. Imagino... Ainda por cima sem saber a língua. Não deve de ter sido nada fácil, mesmo.
Deixo, aqui, uma frase que li algures e que me lembro muitas vezes - "...porque só a coragem no caminho, faz com que o caminho se manifeste."

Boa sorte!
Beijinhos*
Margarida

Anonymous said...

Olá Ana

Eu sou investigador de doutoramento e fiz um estágio no Instituto Max Planck für Ausländisches Privatrecht (na Mittelweg junto à estação de metro que fica antes da Hauptbanhof e da universidade). Conheço muito bem Hamburgo e, apesar de a adaptação inicial ter sido complicadita, fiquei a admirar muito a cidade. Admiro sobretudo a organização e o espírito de tolerância dos alemães; Hamburgo lembra-me um pouco Amsterdam em muitos sentidos. Quanto à língua valeu-me já saber alemão mas reconheço que a iniciação é complicada.

Desejo-lhe as maiores felicidades pessoais e profissionais para si e para o seu namorado em Hamburgo.

Atenciosamente,

B.

Nuno Oliveira said...

Boa sorte Ana,

Alemanha será um bom país para eu ir. O mal é mesmo a língua.. :(