24.5.08

Romana, Licenciatura em Assessoria de Administração e pós-graduação em Gestão internacional, Dublin

Desde que decidi de mudar para a Irlanda, já me perguntaram uma centena de vezes o que me trouxe por cá. Nunca consegui dar uma resposta directa…. Começava sempre "Pois…. Várias razões…. A experiência de viver noutro país, melhores condições de trabalho, abrir o meu mundo a novas realidades, …"
A verdade é que foram tantas as razões que me levaram a este passo que é difícil dar uma resposta concreta.
Desde que me lembro como pessoa que tenho um insaciável desejo de viajar, mas nunca tive oportunidade (ou nunca fiz por ter!). Os pais não podiam e os trabalhos de verão eram para ajudar nas despesas da escola.
Quis fazer erasmus, mas não pude por razões financeiras e concorri ao INOV Jovem mas não fui aceite.
Terminei a licenciatura em Dezembro de 2003. Voltei para a casa dos meus pais e comecei a procurar trabalho. Entre muitos CV's enviados para a minha área, tentei também um trabalho como Au pair, mas não gostei das condições, tentei trabalhar em cruzeiros mas não tinha experiência. A ideia de sair de Portugal, de poder finalmente viajar era algo que não me saia da cabeça.
Comecei a trabalhar em Fevereiro de 2004 a ganhar uns míseros 500€ com contratos mensais. Apesar da miséria de ordenado poupei dinheiro para finalmente fazer a minha primeira viagem. Tinha 23 anos. Depois desta viagem percebi quanto tempo tinha perdido… não queria parar.
Entretanto, por ingenuidade achei que seria boa ideia fazer uma pós-graduação em gestão internacional no ISCTE. Achei que me iria abrir novas portas no mundo do trabalho.
Custou-me os olhos da cara, mas não me arrependo. Apesar de não me ter proporcionado grandes mais valias a nível profissional (e de deixar muito a desejar considerando o custo) foi o empurrão que precisava para mudar a minha vida.
Vivi pela primeira vez num ambiente multicultural e fiquei fascinada! Tive professores desde a Alemanha ao Japão e colegas de todos os pontos do mundo.
Ter conhecido estas pessoas abriu-me os olhos… vi que existe outra realidade fora do meu "mundinho".
O meu ordenado e a minha situação no trabalho melhorou ligieramente, mas continuava com um ordenado que não me permitia sequer sair da casa dos meus pais. Sentia-me a sufocar… precisava de uma mudança!
Comecei então a sondar a oferta de trabalho no Reino Unido e na Irlanda. Depois de muito pesquisar percebi que a Irlanda – Dublin - seria melhor opção por ser um país acolhedor, muita oferta de trabalhos, cidade pequena, menor taxa de desemprego da EU (era, certamente a situação já se alterou), grande abertura a estrangeiros, entre outros.
Em Setembro de 2006 decidi: Vou viver para a Irlanda!! Enviei vários CV's, recebi muitas respostas, mas todos me aconselhavam a mudar para cá pois seria mais fácil para a deslocação a entrevistas.
Felizmente tive o apoio de todos os amigos e família, mas as perguntas repetiam-se entre estes e também entre os curiosos:
"Mas tens trabalho?" Não!
"E tens casa?" Não!
"E tens quem te ajude?" Não!
"E vais assim?" Vou!
Não, não tinha nada, para além de umas poupanças para recomeçar a minha vida e um hostel marcado para uma noite.
Não me queria transformar numa conformista. Frases como: "pois é assim a vida", "é o país que temos", "sempre quis fazer isto ou aquilo, mas nunca fiz porque…" deixavam-me a pensar "não, definitivamente não quero passar o resto da vida a queixar-me sem fazer nada para mudar a minha situação. Ou adapto-me ou mudo!". Resolvi mudar.
Conseguimos sempre arranjar desculpas e justificações para não fazermos o que queremos, quando a realidade é que somos comodistas e temos medo de mudanças e dos "e se's" – "e se não corre bem?", "E se não me consigo adaptar?", "E se não arranjo trabalho?!"
Eu já tinha adiado tempo demais!
No dia 1 de Janeiro de 2007 parti para a Irlanda. Ano novo, vida nova!
Comecei por trabalhar num pequeno escritório de contabilidade no centro de Dublin. Não gostei! Mas fiquei feliz porque consegui este trabalho ao fim de uma semana e meia, só precisava de algo para começar.
Apesar de ter conseguido com bastante rapidez, recebi um mail de Portugal ao fim de uma semana a perguntar "Afinal não é assim tão fácil arranjar trabalho como tinhas pensado?" HUMMM???? Não vim para cá à espera de ter todos os empregadores à minha espera no aeroporto com cartazes com o meu nome!!!!!!
Casa arranjei ao fim de dois dias. Muito simples, partilhada com irlandeses e era que precisava para por as minhas coisas e ter uma morada para tratar de conta bancária e PPS.
Dois meses mais tarde mudei de casa e devo ter arranjado o apartamento mais barato do centro da cidade (tendo em conta as boas condições).
A casa trazia um brinde
:-) Conheci nesta casa aquele que será o meu marido no próximo ano.
Seis meses depois mudei de trabalho. Estou agora numa multinacional a trabalhar como account manager, onde existe uma grande variedade cultural.
Tenho um ordenado com que nunca sonhei em Portugal. No primeiro ano consegui viajar todos os meses (algumas viagens de trabalho), enquanto que em Portugal só o conseguía uma vez por ano.
Neste momento estamos em regime de poupanças porque eu e o meu namorado decidimos casar no próximo ano e fazer um gap year para viajar pelo mundo de malas às costas. Aqui consigo poupar um montante superior ao que era o meu ultimo ordenado em Portugal.
Estou feliz aqui, mas tal como em Portugal não me queixo muito. Sim, como todos, tive muitas dificuldades de adaptação a alguns hábitos estranhos dos irlandeses e claro, ao tempo!
Mas mais uma vez disse a mim mesma "ou adaptas-te ou mudas". Resolvi adaptar-me.
Da comida nem me queixo! É verdade que não consigo encontrar bacalhau salgado, nem pastéis de nata e tenho que pagar mais de 2.50€ por um café, mas sempre comi do bom e do melhor da cozinha italiana e portuguesa.
Um dia, um casal de italianos disse que não tinham gostado de Portugal porque não tinham encontrado boa pasta. Fiquei chocada!! Como é que eles podiam ir para Portugal à procura de pasta??
Desde que ouvi este comentário, percebi que estava a fazer o mesmo… como é que posso vir para aqui e dizer que não gosto porque não há pastéis de nata?
As saudades… essas sim… doem… mas estamos perto. Há telefones e Internet! Quando a minha mãe me disse "filha, vais para tão longe" eu respondi "nem tudo o que parece é. O tempo que demoro da Irlanda para Portugal é o mesmo tempo que demorava para chegar a casa quando estudava em Portalegre."

Estou satisfeita com o que tenho aqui! Estou muito feliz ter mudado a minha vida e muito ansiosa com as mudanças que ainda estão para vir.
Portugal? Talvez seja optimista, talvez seja ingénua, mas acredito que as coisas vão melhorar. Talvez seja a nossa geração, a tal que é rasca, que terá o poder de revolucionar os velhos hábitos que minam a cultura portuguesa.
PS: Pensava que éramos uma espécie rara em Dublin, mas parece que há muitos portugueses por cá. Onde andam escondidos? Visitem http://www.lusosinireland.eu/

www.thepimbas.blogspot.com



17 comments:

Anonymous said...

Admiro que tenhas vindo para ca' sem certezas nenhumas. Tiveste a coragem para arriscar e muito...
Eu so' vim depois de ter voos pagos para as entrevistas, oferta de emprego, voo pago depois de ser aceite, alojamento durante 2-3 semanas num hotel ate' arranjar apartamento. Mas ja' tinha uns aninhos de experiencia de trabalho (7) e por isso consegui negociar as minhas condicoes. E ja' tinha chegado ao ponto de estagnacao em Portugal (pelo que vejo occore quando tens cerca de 30 anos).

Quando eu vim para ca' ha' um ano, era raro ouvir falar portugues sem sotaque brasiliero. Nao sei porque parece que agora um ano depois e' muito mais facil encontrar tugas na rua.
Nao e' por caso que ja' estao por aqui 4 ex-colegas meus de trabalho do Porto.
Se quiseres ver onde param os tugas vai ao Murrays (ex-Frasers) na O´Connel Street quando ouver jogos da liga portuguesa ou da seleccao. No piso de cima num dos ecrãs esta' la' o pessoal todo (bem como os espanhois, italianos e franceses)...

Relamente toda a gente fala mal do tempo na Irlanda... Mas sinceramente isso e' um mito urbano... O tempo e' instavel tal como nos açores... e venta muito... mas ate' pensava que o irverno era bem mais frio por aqui... Olha que no Minho e em Tra-os-Montes e' bem mais rigoroso...
Alem disso um tipo so' quer sol quando esta' de ferias... quando se vai para o trabalho, estar num engarrafamento debaixo de 40 graus, nao e' uma experiencia q se queira repetir muito.
Eu no meu caso so' sinto saudades da comida portuguesa...e da SUPER BOCK :-)

http://tugaemdublin.blogspot.com

Anonymous said...

Realmente é uma agradavel surpresa para mim descobrir que há tantos portugueses na Irlanda! Eu vivo no oeste e aqui somos pouquissimos. O tempo aqui é o pior da Irlanda, chove mais que em Dublin e o vento é fortissimo.

Se algum dia vierem a passeio pelo County Mayo passem a visitar-me em Castlebar. Eu trabalho na Link Pharmacy. O meu mail é ana_moreiraecasimiro@hotmail.com

Saudacoes lusas

Ana Casimiro

Romana said...

PJ, obrigada pela dica. Pensei que ia que ver a selecção a jogar sem um único português por perto :) Nem ligo mt a futebol (tornei-me uma adepta de rugby desde que vim para cá), mas a selecção é a SELECÇÃO!!
Por acidente eliminei o teu post no meu blog. Podes voltar a enviar? :-)


Olá Ana. Obrigada pelo convite. Ainda não fui a Castlebar, mas será uma das próximas viagens pela Irlanda e a farmácia Link fará parte do tour.

Anonymous said...

Romana, desculpa mas ja' nao me lembro do que escrevi. Acabei de chegar de Drogheda e Newgrange/Knowth/Dowth e estou completamente estourado...
Isto de ver locais sagrados pagãos mais antigos que Stonehendge que invariavelmente ficam em sitios inacessiveis e longe da civilização e onde se consta judas perdeu as botas, deixa um tipo de rastos...
Acho que preciso de retemperar as forças com uma Kilkeny, ou uma Bulmers, ou uma Guiness (lol)...
A proposito de raguebi tambem segui o mundial, mas por acaso desde puto que sigo o torneio das 5 nações (agora são 6). Mas gostei de ver os nossos lobos a cantar o hino nacional como ninguem. Nunca vi nenhuma outra seleccao sentir verdadeiramente o hino.

@Ana: na proxima semana vou-me iniciar pela "West coast"... Primeiro vou comecar por Sligo e como nao vou a Portugal nem em Julho nem em Agosto para fugir dos 40 graus a sombra, vou ter tempo de percorrer muitos counties: Galway, Limerick, Mayo, Kerry... e o que calhar...

4You said...

Eu que vivo 'a cerca de 3 anos em terras celtas, posso te dizer que os Tugas nao sao dos povos que mais se reune nesta terra. Muitas poderao ser as explicacoes, mas eu prefiro crer que temos uma superior capacidade e ambicao de mistura com outras culturas que nao a nossa...
"Em Roma ser Romano, em Dublin ser Dubliner":-)

NoKas said...

tenho a certeza que quando a vontade é real, as coisas acontecem!

Boa sorte para o teu próximo ano de mudança!

sapiens said...

Leio este post e doi-me a alma porque nunca consegui mudar. Tenho 26 anos e continuo a viver em Portugal, já não na casa dos pais porque tenho um namorado que tem conseguido dinheiro suficiente para comparar casa... de qualquer forma a casa é dele. cá não tenho esperanças de conseguir comprar a MINHA. Sei que lá fora poderia ter muito a ganhar, mas claro, a vida não é facil, especialmente para quem passou 4 anos da vida a tirar um curso com colocação práticamente impossivel , ainda para mais internacional. Porque o namorado quer... por cá vou ficando, entre a pena e a resignação...Fazendo os planos menos maus para o meu futuro que é no fundo trabalhar de momento para poder continuar a estudar e quem sabe um dia ser grande o suficiente para que alguém se digne a ouvir-me lá fora. A verdade é que há sempre uma balança onde se pondera aquilo que se pode ganhar e aquilo que se vai perder. Por cá , talvez tenha muito a perder, e, se um dia perder tudo o que tenho, ou mudar as prioridades ao valor do que detenho, espero que ainda não seja tarde para saír.

Anonymous said...

Olá!
Tenho uma proposta para ir trabalhar para Inglaterra (Brighton) e queria saber se alguém me consegue dizer se com cerca de 1100 libras por mês eu consigo, pelo menos, sobreviver por lá. :-) Não vou ter despesas com transportes, mas terei com alojamento, alimentação, enfim o trivial! No fundo, queria saber se alguém me consegue fazer uma analogia com a realidade portuguesa e me consegue dizer a quanto é equivalem as 1100 libras que me propõem a um ordenado cá. Com 1100 libras lá consigo fazer a vida de alguém que recebe cá quanto em euros, percebem?

Obrigado, desde já, e parabéns pelo blogue!

Tozé

Anonymous said...

PJ, eu estou mortinha para ir apanhar os 40 graus em portugal em agosto. Como boa alentejana que sou adoro o calor e tenho tantas saudades daquelas noites tropicais em que ficamos acordados até as tantas a destilar...

Em Agosto vou estar em Portugal mas se durante o Junho ou Julho passa por aqui, terei muito prazer em receber a vossa visita e indicar-vos alguns pontos de interesse.

Cumprimentos

Romana said...

Olá Tozé! É difícil te dizer com certezas se esse ordenado dá para fazer uma vida, porque nunca vivi em Inglaterra. Viajo para lá algumas vezes em trabalho e acho tudo muito caro... parece-me mais caro que a Irlanda, mas estudos dizem que é mais barato. 1100£ são cerca de 1400€ - na Irlanda dá para fazer uma vida, desde que te controles, principalmente se não saíres muito à noite, se não beberes café e se não fumares (que são os vícios mais caros neste países). Tenta alugar uma casa baratinha para começar e acho que não vais ter dificuldades. Boa Sorte!

Sofia said...

Olá Romana
A tua história é realmente impressionante! Confesso que depois de a ler fiquei cheia de ideias e vontade de fazer o mesmo! Ainda não arranjei coragem suficiente... :(
Sou Licenciada em Psicologia e temo que mesmo no estrangeiro não seja fácil um emprego na área (só em recursos humanos, na qual não tenho qualquer experiência).
Será que me sabes dizer se existem algumas perspectivas em Psicologia, preferencialmente na área da reincerção social, instituições de solidariedade social?
Obrigada e boa sorte

Sofia

ecila said...

Olá Sofia

Eu também sou psicóloga e estou na Alemanha. O problema da psicologia é a lingua, se se quer exercer tem que se falar a lingua muito bem (e nao só mais ou menos). Logo calculo que o melhor será um país onde falem ingles. No meu caso, arranjei bolsa de estudo e trabalho em investigacao cuja lingua é o ingles em todo o lado.
Quando procurava cursos no estrangeiro dei de cara com uma boa quantidade de anuncios de emprego para Psicologia em Inglaterra, mas isso foi em 2002. O sitio onde na altura vi os anuncios foi http://www.jobs.ac.uk/
Cheguei mesmo a ir a Inglaterra (com tudo pago) para ir a uma entrevista para psicóloga numa instituicao que trabalhava com esquizofrenia. Mas por uma série de razoes acabei por optar pela Alemanha. Boa sorte!

Sofia said...

Obrigada Nat
O site realmente parece ter alguns anuncios interessantes na área de investigação. Apesar de serem mais orientados para clinica, investigação é uma área que me interessa bastante! Vou tentar a minha sorte!
A parte da lingua é realmente um entrave mas com esforço e força de vontade não é nada que não se ultrapasse!
Se houver algum lugar pra mim na Alemanha avisa...não dispenso nenhuma oportunidade! :)
Beijinhos

Cleopatra said...

gostei muito deste depoimento. tenho 24 anos e sou estudante universitária. desde que sou gente que quero ir para fora e nos ultimos anos a coisa tem doído. mas enquanto não acabar o curso vai ser difícil, pelo que testemunhos como estes servem de alento e inspiração! obrigada!

Cleopatra said...

oh sapiens, desculpa lá a intromissão mas...e se um dia o teu namorado de falha? pah, n me leves a mal mas abdicar da tua felicidade em pro de outra pessoa...o amor nao é suposto ser uma troca? sempre podem fazer como aqueles no amor no alaska. passar 6 meses em cada terra, satisfazendo os 2 :P

oh sofia, e inscreveres-te num instituto de linguas para aprofundar o ingles? na carreira ha que investir!

Unknown said...

Olá Romana! A tua história é parecida com a minha!Estou em Dublin desde Março de 2008! Mas já vim com o meu namorado!Manda-me um mail, para trocarmos ideias. Ainda vamos jantar juntas!
Alice.Maria.Oliveira@gmail.com

Bjs Alice

Ana said...

Olá Romana!
Encontrei este blog por acaso e eis que me deparo com o teu post.
Eu estou a tirar Assessoria de Administração em Portalegre!
gostava de falar contigo, sobre a "nossa" profissão.

O meu mail é ana24prates@hotmail.com

Beijinhos Ana