2.3.08

Rubina Vieira, Mestre em Gestão de Turismo, Londres


Antes de mais, gostaria de agradecer à mentora deste blogue, porque é realmente uma ideia muito boa, para além de reconfortante, ler as histórias dos outros.

Confesso que tinha algumas reticências em partilhar a minha história, mas porque me senti representada, e compreendida, no meio de todos estes depoimentos, aqui fica um relato simples do meu “salto”, para tentarmos perceber porque razão os jovens portugueses abandonam o país.

Acabei uma licenciatura no ISCSP, em Relações Internacionais, e trabalhei na área do jornalismo durante três anos (2000-2003). Foi uma experiência fantástica, numa redacção jovem, onde tive a oportunidade de conhecer imensa gente e desenvolver-me como pessoa.

Contudo, e porque estava confinada, na altura, às politiquices da pérola do atlântico, sou madeirense, cedo me apercebi que nessa área pouco mais me restava do que relatar, 300 vezes, as queixinhas da oposição, a pujança dos líderes e uma ou outra reportagem interessante, é verdade.

Desde que me conheço, vivo sonhando com a próxima viagem, conhecer pessoas do mundo inteiro, aprender isto e aquilo e um mestrado no estrangeiro era um sonho de adolescente.

Calhou que o discurso da tanga veio no momento em que reflectia sobre o meu futuro profissional. Com o que ganhava, teria que me aguentar na casita dos papás, sem grandes desafogos, e sem perspectivas que as coisas fossem melhorar a médio prazo.

Farta do país pessimista, foi duro constatar que, nessa altura, Portugal começava a afundar. Tinha dezenas de amigos, licenciados, em condições precárias ou a ficar desempregados. A minha geração, apelidada de rasca por um energúmeno, estava mais à rasca do que nunca. Foi duro ver tanta gente talentosa sem rumo. Pensei, … “Portugal não presta”! Infelizmente, ou felizmente, quatro anos passados não mudei muito de opinião.

Não fui forçada a sair do país, nem estava numa situação financeira aflitiva. Foi algo que sempre quis, só não sabia bem para onde queria ir.

Ainda equacionei fazer mestrado na Argentina ou em São Paulo. Mas após umas férias em Londres apaixonei-me pela cidade, e para aqui me mudei, sem emprego e sem conhecer ninguém, em 2004.

Tinha e tenho bons contactos em Portugal. Mas sempre acreditei que se deve subir por mérito, em vez de entrar pela porta do cavalo.

Nessa altura, não sabia se havia de optar por um mestrado na área do jornalismo, ou em turismo, uma paixão recente. Estive quase um ano a trabalhar e a pensar sobre qual a opção a tomar, e acabei por fazer mestrado em gestão de Turismo, na Universidade de Westminster.

Mantenho um vínculo com um órgão de comunicação social e estou a dar aulas, a futuros licenciados em turismo, numa universidade no centro de Londres.

Não foi um percurso fácil, não é fácil vingar num país estrangeiro. Só quatro anos passados, estou a colher os frutos de muita dedicação, e trabalho, de algumas lágrimas e espinhos.

Mas foi num país estrangeiro que me senti, e sinto, valorizada, que gosto do que faço e sigo os meus sonhos. Portugal asfixia quem tem ambição, e valor, sobretudo os que não se associam a qualquer partido ou facção.

Olho com tristeza para o meu país, para a falta de rumo e atentados à democracia e liberdade de expressão, e sinto-me afortunada por, nesta fase, trazer de Portugal só o que é bom: o tempo, o carinho e mimo da família e dos amigos, a comidinha e o descanso que usufruo quando lá vou.

Não sei se por aqui vou ficar, nem se regressarei a Portugal. Não gosto de fazer planos a longo prazo. Logo vejo para que lado acordo amanhã. O que interessa é termos coragem de seguir os nossos sonhos, mesmo que o percurso seja difícil, e sermos fiéis a nós próprios.

Tenho conhecido pessoas interessantíssimas, viajado por países diferentes, aprendo todos os dias e quero continuar a fazê-lo sem prazos e longos planos.


www.penseiquesabia.blogspot.com

5 comments:

Renato said...

jornalismo limitado na Madeira? so pode ser mentira ;)

eu sou de LX mas tou nos Açores agora e tem a sua piada trabalhar nesta área aqui..

Anonymous said...

Amiga,

Obrigada por partilhares a tua história, sinto-me um bocadinho responsável já que te falei do GAP :)
Quanto ao conteúdo propriamente dito... tu já sabes!!! LOL Fiquei verdadeiramente surpreendida, muito embora tenha considerado que fizeste muito bem!

Com amizade

Carla

Nádea Abreu said...

Amiga

Só uma palavra para ti "FANTÁSTICA".

Descreveste bem "aquilo" que é o nosso país.
No entanto, sendo um país pobre, em todos os sentidos da palavra, tem pessoas "ricas" como tu.
Como docente posso dizer que estamos em crise profissional, como pessoa estamos a "sufocar" de deveres e nada de direitos, como mãe, não temos tempo para educar o único filho que temos nem para lhe "arranjar" um irmão.

Tenho orgulho de ser amiga de uma vencedora!!!!!

Bjs. Nádea

Anonymous said...

Um beijinho de um antigo colega de redacção. Teve piada a experiência.
:)

Unknown said...

Eu tambem sou da area de Jornalismo e tambem estou em Londres. Entertanto comecei uma carreira na area de Marketing Digital, que estou a adorar. Cheguei ha 2 anos e pouco. Em Portugal a maternidade ditou o meu desemprego, estava abafada, confinada a nada. Aqui reergui-me e volto a estar feliz.