4.4.07

Maria Neiva, Arquitecta, Nova Iorque

Não tenho nada a perder, foi o que pensei quando decidi sair de Portugal. É sempre difícil deixar alguma coisa para trás, mas mais difícil foi perceber que não havia propriamente nada para deixar. Porque a família e amigos, neste tipo de situação, não se deixam. E a minha vida era como a da maior parte dos meus amigos, na corda bamba. Sem saber se dali a um mês perdíamos o emprego, se perdíamos o arrendamento jovem, quase a perdermos o tino.
Há uma altura da vida em que ansiamos uma única coisa estável: a situação financeira. Para aguentar as despesas de ter a minha casa (alugada), tinha que ter dois empregos. Um como arquitecta, outro atrás de um balcão de uma loja de design. O plano era acabar o estágio e ir ter com o R. a Nova Iorque, que na altura estava a meio do mestrado. Fui sim a procura de uma estabilidade financeira. E encontrei-a. Fui tambem a procura de outras riquezas, daquelas que só encontramos quando vivemos num país que não é o nosso, quando lidamos diariamente com pessoas de outras origens e quando falamos outros idiomas.

2 comments:

Anonymous said...

Concordo, compreendo e partilho a opinião em tudo no teu testemunho, menos num ponto: dizes que partiste na procura de estabilidade financeira, sim, esse foi certamente o teu objectivo consciente mas parece-me que a procura de estabilidade afectiva deve ter sido, ainda assim, a âncora que precisavas.

Anonymous said...

Será que se podem deixar testemunhos de alguém que viajou por todo o mundo e, ainda assim, sem estabilidade financeira e sem boas perspectivas fica em Portugal?

crispsi@sapo.pt