Sílvia Martins, Engenheira Civil, Asilah, Marrocos
A minha vida profissional começou em Setembro de 2000, com 22 anos.
Munida de um canudo do IST
As minhas funções na empresa onde ingressei e para a qual ainda hoje trabalho foram desde sempre ligadas à produção. Realizei o meu sonho de criança : “trabalhar nas obras”. Um meio que ainda hoje não é fácil para alguém do “sexo fraco” mas que me acolheu de braços abertos e com um conjunto de colaboradores fantástico que me ensinou muito, me apoiou ainda mais e que permitiu a minha evolução profissional.
Em finais de Setembro de 2006 as perspectivas em termos de mercado interno eram muito más e a empresa continuou o esforço de internacionalização que vinha sendo uma constante desde 2004 … de repente os países do Magreb, nomeadamente Marrocos e Argélia, descobriram necessidades a nível de infra-estruturas que, aliadas ao crescimento económico, permitiram a entrada em força de empresas de construção estrangeiras. O mercado é gigantesco, tem dinheiro, está em movimento e necessita do know-how ocidental como de água para beber.
Com este panorama, um mercado nacional em queda livre e potenciais mercados estrangeiros em ascensão, rapidamente foi fácil aperceber me que a estrutura da empresa em Portugal em termos de quadros técnicos se ia esvaziando … uns porque aceitavam as condições de “expatriamento” e partiam para sítios como Oran, Béjaia, Meknes … outros porque não estavam preparados para a saída de Portugal e pura e simplesmente abandonavam a empresa.
Tendo em atenção que os mercados emergentes eram países muçulmanos e tendo em atenção que eu era a única “Directora de Obra” da casa, sempre pensei que estaria “segura” em Portugal … no entanto, no inicio de 2007 fui confrontada com uma situação que, só por ingenuidade, foi surpresa. A proposta de uma ida para Marrocos, coordenar uma obra com a duração de 14 meses …. Cedo percebi que não existiam alternativas a esta proposta porque pura e simplesmente não há obras em Portugal …
A renda da casa para pagar, a vontade de trabalhar e o gosto em trabalhar com uma equipa que era já minha conhecida hà anos fez me dizer que sim no tempo exacto que me foi dado para pensar: 48 horas ….
Hoje, em Marrocos (Asilah-Tanger) há três meses, já percebi que esta é mais uma experiência que me vai fazer aprender e crescer … crescer mesmo muito … fez me perceber que Portugal é cada vez mais um pais sem perspectivas para a minha geração e que a solução passa mesmo por uma saída para o estrangeiro … por muito que me custe, começo a aceitar que o mais certo é não ir criar os meus filhos na terra que me viu nascer …
Marrocos, apesar de não ser uma terra “má”, apesar de ter tudo o que temos na Europa, não é um sítio onde quero ficar por muito tempo. As diferenças culturais são óbvias e previsíveis, e o tratamento e respeito devido às mulheres é muito baixo … mesmo para as estrangeiras com cargos de responsabilidade …
Sempre que posso procuro na net oportunidades de emprego … fora de Portugal … já são alguns os currículos enviados para sítios tão diversos como Angola, Irlanda, Africa do Sul … não por vontade de estar fora de casa, mas por sentir que em casa não há lugar para mim …
A esperança é de um dia sair de Marrocos … mas a certeza é que dificilmente voltarei a Portugal … custa … mas é a realidade e mais vale encara-la de frente …
24.8.07
Posted by GAP
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
4 comments:
Marrocos não deve ser fácil para uma mulher...
Interessante esta história, apesar de estar a acontecer algo que nos põe tristes: saírem de Portugal para não mais voltar tantos jovens habilitados, cheios de capacidade e energia.
Continuo a pensar que é uma pena...mas parece-me inevitável.
Já sou avó duma neta criada na China e o mais certo é que venham outros cujo país de nascimento será o Luxemburgo...
Felicidades, Sílvia, que encontres rapidamente trabalho num país distante e acolhedor.
Bjs
"mas a ceteza é que dificilmente voltarei a Portugal... custa... mas é a realidade e mais vale encará-la de frente...": SEM TIRAR NEM PÔR!
estou na roménia ha sensivelmente 7 meses e parto para portugal dentro de 6 semanas! após uma viagem de 1 mês pela américa do sul, espero encontrar trabalho aqui no leste europeu... não tanto pela situação do nosso país, mas também!
Uma mulher no Magreb! E preciso coragem! Parabens!
Silvia para tudo na vida é preciso muita coragem e voce tem, não se esqueça o triunfo pertence a quem se atreve. estou ligado á construção e tenho como objectivo Marrocos tenho um projecto ligado á construção unico no mundo e queria implantá-lo a partir daí.
Acho que será interessante trocarmos algumas impressões.
Post a Comment