19.11.09

Catarina Rodrigues, Product Developer, Utrecht, Holanda
Foi por acaso que encontrei este site: estava à procura de informações sobre portugueses na Holanda, uma maneira de melhorar a minha vida social por aqui. Nos últimos meses tenho andado a ler testemunhos sobre pessoas que, de uma maneira ou outra, tiveram um percurso semelhante ao meu, identifiquei-me com diferentes aspectos dos vários posts que li (reconheci pessoas conhecidas) e resolvi deixar a minha história.

Aquilo que me fez sair de Portugal não foi tanto a insatisfação com o que lá tinha, mas sim a necessidade de ter, ver, conhecer mais... crescer, abrir os olhos para o mundo.

A oportunidade surgiu pouco antes de acabar o curso de Eng. Química em Coimbra. Uma professora falou-me no programa Leonardo da Vinci: um programa europeu que coloca jovens licenciados há menos de 1 ano em universidades ou empresas das mais diversas áreas. Candidatei-me e fui aceite numa empresa de aromas e fragrâncias situada perto de Amesterdão. Comecei o meu estágio de onze meses em Janeiro de 2007.

Uma das coisas que me surpreendeu imediatamente foi a falta de formalismos: “trata-me por tu” disse-me o meu mentor. Na altura achei muito estranho que uma pessoa com o doutoramento não esperasse ser tratada por Senhor, Mister, Doutor ou Professor. Notei que aqui as hierarquias são muitos menos realçadas e as relações menos formais embora se mantenha sempre o respeito pelo outro.

Durante este tempo estive em contacto com pessoas das mais variadas nacionalidades, com as mais diferentes e espantosas histórias de vida e de facto os meus olhos abriram-se para outras maneiras de pensar, de viver, de trabalhar até.

No inicio não tinha intensão de ficar mais tempo que o planeado, mas a minha maneira de ver as coisas mudou. Depois de umas curtas e instáveis férias de Natal em Portugal voltei para a Holanda para tentar encontrar um emprego na área que me tinha fascinado durante o meu estágio.

Sair a segunda vez foi provavelmente uma das coisas mais difíceis que fiz, senti que estava a abandonar toda a gente, a falhar e a desiludir a minha família, mas por mais difícil que tenha sido na altura ainda não me arrependi e até agora tenho conseguido manter os dois lados equilibrados.

Passei 3 meses a tentar encontrar um emprego que me motivasse, admito que fui muito picuinhas nesse aspecto mas para mim não valia a pena ficar na Holanda a fazer algo que não me deixasse realizada. Finalmente a minha oportunidade chegou e consegui o emprego que queria na área que queria.

Depois de quase 3 anos a viver aqui (ou por aqui) sinto-me bastante crítica a mentalidades de ambos os lados.

Considero os holandeses muito práticos, organizados, directos e frontais. Gosto da mentalidade de trabalho mas depois do deslumbre inicial aprendi a reconhecer também os defeitos: vejo diariamente situações que roçam o limite e muitas vezes dou por mim a considera-los muito rígidos, mecânicos e tipicamente poupados (forretas!). Para um pais que é visto com sendo muito liberal há muitas coisas em que são demasiado "narrow-minded".

Por outro lado em conversas com colegas e amigos vejo-me a desejar ver implementadas algumas características holandesas (e medidas governamentais) em Portugal. A falta de oportunidades, as longas horas de trabalho e o desequilibrio que parece existir entre a vida profissional e pessoal são coisas que me deixam bastante desiludida.

Posso dizer que tem sido uma experiência enriquecedora mas não imagino viver aqui o resto da minha vida porque há coisas às quais não me consigo habituar: a falta de sol, calor e mar, a sobrepopulaçao deste pais. Além disso, há um mundo muito grande para ver e conhecer e quando surgir uma boa oportunidade estarei pronta para a agarrar.

Não excluo de modo algum a possibilidade de voltar a Portugal porque acho que devo a mim mesma tentar ser feliz no meu país. Embora saiba perfeitamente que nunca terei o mesmo tipo de vida que tenho aqui e apesar das óbvias desvantagens ainda consigo ver um ou outro beneficio.

Mas se não ficar bem em Portugal é fácil: mudo de novo! Acho que essa é uma vantagens de sair do pais de origem: deixamos certas restrições para trás e aprendemos a adaptar-nos muito mais facilmente a novas situações.

5 comments:

anareis said...

Estou fazendo uma Campanha de Natal para crianças necessitadas da minha comunidade carente,são crianças que não tem nada no Natal,as doações serão destinadas a compra de cestas básicas-roupas-calçados e brinquedos. Se cada um de nós doar-mos um pouquinho DEUS multiplicará em muitas crianças felizes. Se voce quiser ajudar é fácil,basta depositar qualquer quantia no Banco do Brasil agencia 3082-1 conta 9.799-3 Voce verá como doar faz bem a Alma,obrigado. meu email asilvareis10@gmail.com

r i t a said...

Gostei imenso do teu post ate porque penso mais ou menos como tu...não quero ficar para sempre em Madrid...mas se tb nao for em Portugal, vou para p putro país, o medo inicial de tentar a sorte noutro pais ja desapareceu...

Anonymous said...

Olá Catarina!
Gostei bastante do teu testemunho, um texto cheio de optimismo e vontade de vencer!
muitos parabéns e obrigada por partilhares a tua história,
bjinho
Andreia@milão

Guilherme said...
This comment has been removed by the author.
Andorinha said...

Olá Catarina, Parabéns pela força de exigires o melhor pra ti e não te contentares com raspas. Não é qualquer um que aguarda 3 ou 4 meses pra escolher um emprego que seja exactamente o que quer, na área que quer, e o que é mais: fora da sua zona de conforto.
Muito boa sorte, e quem sabe, até qq dia :)
Sofia