13.5.07

Carla Paiva, Línguas e Literaturas Modernas, Estudos Ingleses e Alemães. Weiden, Alemanha
Ora bem, a minha história é possivelmente igual a tantas outras, com a pequena variante que em vez de ter vindo parar a uma cidade fixe da Alemanha, aterrei num buraco aqui perto da República Checa. Mas nao sou menos feliz por isso.
Regressemos ao ano de 2001. Fui dois semestres para a Universidade de Göttingen, na Alemanha, ao abrigo do Programa Erasmus. Estava no terceiro ano da Universidade, em Coimbra, na Faculdade de Letras. Precisava de praticar o alemão. Vai daí, agarro em mim e seguindo a recomendação do meu Pai, candidato-me. Nunca te agradeci, Pai pelo empurrão que me deste. Ouvi-te em desabafo dizer, uma vez, que se soubesses, nunca tinhas insistido comigo para eu ir. Mas fizeste bem, apesar do que a tua consciência de Pai te vai dizendo, de vez em quando.
A experiência em si foi muito boa. Tive a oportunidade de fazer parte dum sistema a nível do ensino superior no estrangeiro e penso que lucrei bastante com tudo isso. No meio de dicionários, festarolas com os outros estudantes, almoçaradas na cantina, etc, tropecei num espécimen adorável, com quem, agora - seis anos depois - estou happily casada. Mas entre esse ano de Erasmus em que o conheci e a altura em que decidi vir para cá morar, temos uma fantástica elipse temporal, na qual acabei o curso de volta à universidade de Coimbra. Regressei com notas muito boas e com um coração palpitante. Mas nao palpitante o suficiente para me fazer enfiar os meus pertences todos na mala e voltar para onde me tinha levado o coração. Terminei o curso e fiquei uns meses à procura de emprego. Como nada apareceu, a ideia de vir para o País das Salsichas começou a tomar conta de mim e passei semanas a fermentar a possibilidade de vir para cá, mas desta feita com a mala mais cheia do que normalmente ela fica quando vamos só de férias. Pedi apoio ao meu bom-senso, que me ajudasse a determinar o quão arriscado seria decidir emigrar. Por amor, claro está. Até porque eu me considero uma pessoa com uns laços familiares muito fortes. O facto de nao ter arranjado emprego mal acabei o curso, confesso que me ajudou a decidir. E quatro meses depois de me formar, vim para as Salsichas, já com algumas ideias, pois tive tempo suficiente para preparar a minha chegada. Tinha um Plano A, um plano B e um plano C. Arranjei emprego durante as primeiras três semanas, onde estou agora a morar. O Plano A correu, portanto, como era esperado.
Actualmente, dou aulas de Inglês duas vezes por semana e trabalho numa empresa, no departamento de Vendas.
Há muitas coisas que aprecio nos alemães. A simplicidade, por exemplo. O interesse pela Natureza. A banalidade de ir para o trabalho de bicicleta. Depois há algumas coisas que abomino. A burocracia, o tempo predominantemente frio, os penteados dos anos 80, a moda dessa mesma década com as novidades de cada estação (mistura bombástica), a obsessão pelas regras e pela pontualidade.
Digo porém, que me sinto feliz aqui. A minha família faz-me muita falta. Mas, nunca se tem tudo, nao é mesmo?